Casa do João. A primeira coisa que me veio à cabeça quando estávamos indo para lá foi cantar "A Chris roubou pão na casa do João". Para minha surpresa, ela não respondeu "quem, eu?", porque não conhecia a brincadeira. Será que não rolava isso lá no Rio de Janeiro? Com delito ou não, nos dirigimos em uma noite de quarta-feira para a Casa do João, que fica no centro de Bonito, mas em uma rua perpendicular à Rua Pilad Rebuá, que é a rua do agito na cidade. Mas a Casa do João não precisa do agito da Pilad, porque dentro dela cabe praticamente uma cidade inteira: 476 lugares. Serra da Saudade (MG), o menor município do pais, tem 776 habitantes. Ok, teríamos que deixar trezentas pessoas de fora, mas boa parte da cidade caberia dentro da Casa do João.
Há um salão enorme, que comporta a maioria dos lugares, um pequeno balcão mais elevado, onde ficamos, além de um outro salão fechado, que estava desativado no dia de nossa visita - deve ser usado nos dias mais cheios. A decoração é diversa e bem caprichada, com lustres bonitos e alguns objetos rústicos. O teto do salão principal é sem forro, lembrando um rancho de fazenda mesmo. Houve o cuidado de preservar até um antigo poço, que foi usado até os anos 1990. Completando, o restaurante ainda abriga um pequeno museu com objetos antigos relacionados ao restaurante e à cidade e uma pequena loja de artesanato na saída. É praticamente uma atração turística à parte. Chris também ficou satisfeita com o cantinho para fumantes, sem precisar sair à rua. O lugar não estava lotado, mas tinha bastante gente, e aí entra o que, para nós, é o principal problema do ambiente: é um tanto caótico e barulhento, pela quantidade de pessoas. Mas é o estilo da casa, não tem como fugir.
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Chris tendo um contato direto com lustres e peixes voadores |
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O Fê com cara de quem roubou pão |
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A Chris e, atrás dela, o salão, que estava desativado no dia de nossa visita |
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Um traíra na Casa do João |
O cardápio é acessado por QR Code, algo que não curtimos muito. Mas aqui dá pra entender: imagine quantos cardápios físicos eles teriam que ter em um lugar tão grande? Outro efeito colateral de um restaurante que recebe tanta gente é o cardápio com dezenas de opções, entre entradas, caldos, peixes, carnes, pratos vegetarianos, pratos kids, e com porções individuais, para dois, para três e até para cinco pessoas (caso do Arroz de Comitiva do João, que sai por R$320). É realmente muita coisa, e ficamos um bom tempo para decidir o que pedir.
Resolvemos pedir duas entradas, e dividimos as duas. Uma delas foi o Caldinho de Boas Vindas (caldo de peixe com mandioca e coentro, R$24), servido num copinho americano (tô pensando aqui, se é de boas vindas tinha que ser de graça, né?). Sabor forte de peixe, claro, mas achei que poderia ser mais temperado. Chris gostou mais que eu. Também pedimos a Casquinha de Traíra (filé de traíra desfiada, tomate, cebola, azeite de dendê, alho, leite de coco, pimenta do reino e cebolinha , R$27,90). Nessa aconteceu o contrário, eu gostei bastante, achei saborosa e crocante, embora um pouco seca. Chris achou muito farofenta.
A maioria dos pratos principais da Casa do João é para dividir. São apenas seis opções entre os pratos individuais e dezesseis de pratos para compartilhar. Resolvemos tomar esse caminho. Ficamos tentados a escolher a traíra frita (R$224 na versão para duas pessoas), que é o carro chefe da casa, e a origem do restaurante. Mas não resistimos à Mojica de Jacaré (R$272 para duas pessoas), um tipo de moqueca feita com carne de jacaré, mandioca e urucum, servida com arroz, pirão e farofa de banana.
A primeira coisa a destacar é a lindeza, impressionante como o urucum deixa as coisas bonitas. O arroz tava ok, bem soltinho. O pirão estava delicioso, mas não tinha consistência de pirão, parecia mais um molho mesmo (acho que tinha creme de leite). Farofa gostosa, bem crocante (embora a Chris tenha dito "a da sua mãe fica molhadinha e crocante ao mesmo tempo"). Quanto à mojica, é preciso modular a expectativa primeiro, porque não vem aquele sabor forte de moqueca baiana, apesar de parecer com uma. Tá mais pra moqueca capixaba. Mandioca bem macia. Temperos delicados, mas presentes. A carne de jacaré estava um pouco borrachuda, foi o ponto que menos gostamos do prato (ambos já tínhamos comido jacaré antes, não era nossa primeira vez com o réptil). Misturar o caldo da mojica com a farofa foi um exercício ao qual me dediquei com deleite, mesmo depois de satisfeito. Um belo prato, não de se comer gemendo, não tem aquela intensidade, mas ainda assim um belo prato.
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Um belo prato que além de tudo é bonito e tem lindeza |
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Só o réptil tava meio emborrachado |
Era o nosso segundo dia em Bonito e Chris já estava apaixonada por uma frutinha local chamada jaracatiá. Então não tinha como não pedir de sobremesa o sorvete de jaracatiá com doce de leite quente, farofa de banana chips com paçoca (R$51,90). Vieram duas bolas de sorvete, e ambos ficamos com a forte impressão de que uma delas era de creme, não de jaracatiá. Faltou deixar isso claro na descrição. A junção de calor e frio é bem interessante, como em um petit gateau ou um apfelstrudel servido com sorvete. Aqui também deu certo, doce de leite bem gostoso e quentinho. Claro que isso faz com que a gente tenha que comer logo, pro sorvete não virar vitamina.
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Demoramos pra pegar o nome da fruta, sempre vinha um "jacaratiá" |
Com capacidade para servir quase dois terços da menor cidade do país ao mesmo tempo, claro que o serviço é uma parte importante da Casa do João. Por exemplo, logo na chegada uma hostess é responsável por direcionar os convivas a um local para o "assentamento". Dissemos que havia uma fumante, e que seria interessante ficar mais perto do "fumódromo". Infelizmente não foi possível, e fomos posicionados a uns 4km de distância. Mas antes mesmo de termos feito nosso primeiro pedido a mesma hostess veio até nossa mesa e disse que tinha vagado uma mesa para dois no balcão elevado, mais perto do local de abastecimento de nicotina. Fomos para lá, felizes da vida - Chris especialmente. E o serviço é todo assim, trabalhado na eficiência. Há garçons responsáveis por áreas específicas, e eles se apresentam pelo nome logo na chegada dos clientes. O nosso era o Rafael, que em dado momento deu uma sumida. Quando reapareceu, se justificou dizendo que tinha derrubado suco em si mesmo, e estava se limpando. Gostamos dessa espontaneidade, e esse foi um dos poucos momentos em que isso rolou. No mais das vezes, como dito, o serviço prima pela eficiência, sem muito salamaleque. Mas é inegável que é muito eficiente. O prato que mais demorou foi a mojica, e mesmo assim acho que não chegou a meia hora de espera.
A Casa do João tem música ao vivo. Na noite de nossa visita era uma moça com seu violão. Repertório legal, que nós gostamos. Mas o fato de ter música ao vivo é mais um ingrediente nesse caldo meio caótico que forma o ambiente do lugar. É tudo tanto (nome de um disco da Tulipa Ruiz) que a gente fica meio zonzo. Isso não depõe contra a casa, apenas é algo que, para mim e para a Chris, joga um pouco contra quando temos que responder se voltaríamos ao lugar. E ambos concordamos que não voltaríamos. O que não nos impede de concordar que é uma experiência bonitense que qualquer pessoa que visita a cidade deveria ter. Não é sempre que se tem tudo tanto em um único lugar.
A Casa do João tem música ao vivo. Na noite de nossa visita era uma moça com seu violão. Repertório legal, que nós gostamos. Mas o fato de ter música ao vivo é mais um ingrediente nesse caldo meio caótico que forma o ambiente do lugar. É tudo tanto (nome de um disco da Tulipa Ruiz) que a gente fica meio zonzo. Isso não depõe contra a casa, apenas é algo que, para mim e para a Chris, joga um pouco contra quando temos que responder se voltaríamos ao lugar. E ambos concordamos que não voltaríamos. O que não nos impede de concordar que é uma experiência bonitense que qualquer pessoa que visita a cidade deveria ter. Não é sempre que se tem tudo tanto em um único lugar.
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 8 e 8
Entrada (2): 6 e 6
Prato principal(3): 7 e 7,5
Sobremesa(2): 7 e 6,5
Custo-benefício(1): 5,5 e 6
Média: 6,70 e 6,95
Voltaria?: Não e não
Serviço:
R. Cel. Nelson Felício dos Santos, 664 - Centro - Bonito - Mato Grosso do Sul
Telefone: (67) 99216-0713
Instagram: @casadojoaorest
Não escolheria o jacaré, mas gostaria de conhecer A Casa do João, o texto me convenceu. Obrigada pelo elogio da minha farofa.😍
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