sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Maní (São Paulo - SP) - 22/10/2025

 


    Aqui do casal, quem assiste a programas de culinária, se importa com listas de melhores restaurantes do mundo, estrelas Michelin, chefs mais celebrados e afins é este que vos escreve. A Chris gosta de comer, mas não liga para nada disso. Portanto, foi com expectativas muito diferentes que nos dirigimos ao Maní em uma noite fria de quarta-feira em São Paulo. Para mim era a entrada em um templo da culinária. Para ela, só mais um restaurante. Caso você seja como a Chris, vale saber: o Maní tem uma estrela no afamado Guia Michelin desde 2015, além de contar com a chef Helena Rizzo no comando do cardápio (junto ao chef belga Willem Vandeven). Helena já foi considerada a melhor chef do mundo, além de ser uma das apresentadoras do programa Masterchef, da Band.

Qual dos dois tá mais trabalhado na expectativa?

    Nossa chegada ao Maní foi via Metrô, descendo na estação Fradique Coutinho, e depois caminhando por uns cinco minutos. Mas, mesmo estando a pé e prestando atenção, quase passamos batidos pela discretíssima fachada, que conta com uma pequena placa com o nome do restaurante, e uma luz bem branda. O que mais chama a atenção na entrada é uma árvore, que parece ser uma macieira (ao menos os frutos que vimos nela pareciam maçãs). Depois de abrir caminho através de uma cortina chegamos a um longo corredor, com palmeiras desenhadas à direita, além de uma janelinha com vidro fosco dando acesso visual à cozinha, e, dos dois lados, banquinhos, com mesinhas de apoio de copo, para aqueles que chegam sem reserva e precisam esperar uma mesa. Adentrando mais um pouco, dois salões interligados, com decoração em cores suaves, com muito branco, e nada gritando. Nas mesas, uma luminária daquelas com diversas gradações de luz. No local em que ficamos havia, no teto, um arranjo de galhos secos, bem rústico.
 
    (um aparte sobre o ambiente: não é a primeira vez que vemos isso, mas sempre nos incomoda a mesquinharia de toaletes em alguns restaurantes. Sabe, o Maní deve ter uma capacidade para, sei lá, umas 60 pessoas, e tem só uma "casinha" pros homens, uma pras mulheres, e que ainda dividem o mesmo exíguo espaço de espera, caso a "casinha" esteja ocupada. Pô, meus arquiteto, dá pra meiorá isso aí!)
 
O corredorzão e o banquinho da espera
 
Tudo muito claro e discreto, menos o rapaz aí

Já a moça está compondo bem com o ambiente

    O cardápio do Maní se resolve em apenas uma página, com couvert (R$ 36 por pessoa), seis belisquetes (uma pré-entrada, podemos dizer, com preço médio de R$70), seis entradas (começando em R$ 79 e podendo chegar a R$ 114), oito principais (individuais, de R$ 99 a R$ 199) e seis sobremesas (todas por volta de R$ 50). Tem também sorvete e fruta do dia, mas não vou considerá-los como sobremesa. Algo inusitado é que o menu lista apenas os ingredientes utilizados na receita, sem dar um nome ao prato e sem explicar como são servidos, qual o tipo de cocção, enfim, sem nenhum detalhe. Isso já deixa bem clara a proposta de dar valor aos ingredientes. É um jeito bem inusitado de decidir o que se vai comer. Claro, existe a possibilidade de perguntar ao garçom, mas acho que a proposta é justamente se deixar levar pela curiosidade.

    Existe a opção de escolher o menu-degustação (R$ 695 por pessoa), mas estávamos sem vontade dinheiro pra isso. Caso se opte pelo menu-degustação, todos na mesa precisam optar por ele. Existe outra opção, que é o Menu 3 Cursos, com entrada, principal e sobremesa, mais um belisquete surpresa, que custa R$ 365, na versão regular, ou R$ 285, na versão vegetariana. Resolvemos fazer um Menu de 3 Cursos regular, para dividirmos a entrada, com o outro de nós escolhendo um principal e uma sobremesa. Assim experimentaríamos uma boa parte das opções, sem deixar os nossos rins como pagamento, já que eles são muito valiosos e importantes em nossas vidas. Isso posto, é importante frisar que, desses restaurantes com chefs famosos e estrelas Michelin, o Maní é um dos que cobram o preço mais em conta pelo menu-degustação.

    O nosso belisquete surpresa, que faz parte do Menu de 3 Cursos, foi uma ostra que não está no cardápio. O garçom cantou os ingredientes pra gente, mas não me lembro de todos. Me lembro que tinha gin. Chris não gosta de ostra, então me dei bem, comi sozinho, veio apenas uma ostra, é bem belisquete mesmo, e estava saborosa, refrescante, adorável.

Saborosa, refrescante e adorável. E até bela, pra uma ostra.

    A entrada que escolhemos foi nhoque de mandioquinha e araruta|dashi de tucupi (R$ 86, mas fazia parte do Menu de 3 Cursos). Uma apresentação toda trabalhada na delicadeza, com os dez nhoques encimados por folhinhas ou temperos diversos. O dashi de tucupi é colocado no prato apenas na mesa, na frente do cliente. Fica como que uma sopinha de nhoque. A textura do nhoque é algo até difícil de descrever, uma maciez, uma fofura, que não me lembro de ter sentido igual. Chris também gostou da textura. O caldo tem uma razoável acidez, e eu achei delicioso, cheio de umami, fazendo salivar. Chris não gostou tanto quanto eu, e achou que é servido muito caldo, que poderia ser deixado ali para que o próprio cliente coloque o quanto quiser. 
 
Dez nhoquinhos encimados por folhinhas e temperos, uma tetéia

    A listagem de ingredientes que mais agradou a Chris foi bife ancho|purê de batata|leitelho|alface romana|chile poblano (R$ 199, mas fazia parte do Menu de 3 Cursos). Aqui uma apresentação mais porradona, apesar do inusitado de ver uma alface que passou por cozimento, algo não muito comum. O purê é servido à parte, com a espuma de leitelho (o líquido que sobra na produção de manteiga, menos gorduroso do que o leite) por cima, trazendo um pouco de acidez. Textura do purê muito macia, mas a verdade é que ele fica meio perdido ali, tanto que nem participa do rolê dentro do prato junto com os amiguinhos. Ela simplesmente adorou a alface romana com a farofinha de pão por cima, temperada com o chile poblano, uma pimentinha mexicana. A carne veio mal passada como ela pediu, e no geral estava macia, mas infelizmente tinha alguns pedaços com nervos, daqueles incomíveis. Eram poucos, mas suficientes para incomodar bastante.
 
Tudo lindo, gostoso, mas dá nos nervos, sabe?

    Eu simplesmente não consegui escolher meu prato principal, e deixei a cargo do acaso. Fiz um sorteio entre as oito opções. O acaso foi gentil com meu bolso, e escolheu um dos pratos mais baratos, com arroz negro|leite de castanha|hommus de castanha|banana-da-terra|brócolis (R$ 103). A apresentação ainda me deixa um pouco em dúvida, não sei se gostei. É no mínimo inusitada, com as folhas de brócolis (ao menos eu imagino que sejam de brócolis) por cima, fazendo sombra no restante dos ingredientes - foi até difícil achar um ângulo pra foto. Mas olha, essas folhas crocantes eram a melhor coisa do prato, absolutamente deliciosas. Eu gostei do hommus de castanha, e achei que poderia vir um pouco mais, assim como os cubinhos de banana-da-terra. As garfadas que vinham com esses elementos eram as melhores. O arroz em si estava gostoso, bem delicado, mas não memorável. E o brócolis (o brócolis mesmo, não as folhas) estava bom, bem firme na mordida, acho que era essa a intenção. Não curti a proporção, acabou "sobrando" arroz.
 
Já se passaram vinte dias e ainda não sei se gostei da apresentação

    Para o adoçamento da vida, Chris escolheu figo|ricota|mel|pólen de uruçu-amarela (R$ 50, mas fazia parte do Menu de 3 Cursos). Eu me referi a "adoçamento", mas na verdade temos a impressão de que os chefs, na tentativa de fazer sobremesas que não seja muito doces, acabam fazendo sobremesas delicadas demais. Chris gostou, não tem como dizer que estava ruim, apresentação bonita, trabalhada na monocromia, diferentes texturas, mas não houve emoção. Não havia elementos contrastantes o suficiente, Chris achou que ficou tudo meio "plano", monocromático, para usar, por extensão, o mesmo termo usado pra falar da apresentação.

Parece uma orelhinha

    Eu escolhi como sobremesa um dos únicos pratos com nome próprio em todo o cardápio: Da Lama Ao Caos. Ele vem com berinjela|coalhada seca|lima da pérsia|flor de laranjeira|pistache|gergelim preto (R$ 50). Essa sobremesa já apareceu no programa Masterchef, com os participantes recebendo a missão de reproduzi-la. Acabo de rever o episódio e, tecnicamente, a sobremesa traz uma enormidade de elementos - além de poder estar exposta no Museu de Arte Contemporânea, de tão bonita. É divertido de comer, buscando colheradas diferentes, com texturas e sabores diferentes. Inclusive é bem difícil conseguir uma garfada com todos os elementos presentes. Adorei especialmente os pistaches crocantinhos. Mas, assim como na sobremesa da Chris, aqui também faltou um grito, aquela deliciosidade que faz a gente lembrar para sempre do prato.  
 
Não gritou, mas é bela

    O serviço do Maní não tem aquela formalidade de restaurantes sofisticados, o que é um alívio. O garçom responsável por nossa mesa alternou bons e maus momentos, o que acho que pode ser explicado pelo fato de ele estar gripado (ou simplesmente com a rinite atacada) no dia de nossa visita. Às vezes ele parecia distante, meio sacudo, por exemplo quando a gente perguntou o que era leitelho, ou que cacete é um bulgur. Em outros momentos, como quando a Chris falou que eu sou sommelier de cervejas, o cara entabulou uma conversa amigável, informal e simpática sobre como os clientes não querem saber de cervejas diferentes em restaurantes como o Maní. Em relação aos tempos de espera, não há o que reclamar, mesmo com o restaurante bem cheio nenhum dos pratos demorou além do razoável.

    Eu tenho bastante simpatia pela chef Helena Rizzo. Gosto da postura, gosto das opiniões, gosto do jeito que ela trata as pessoas, ao menos no pouco que conheço dela, dos programas de TV. Por isso, para mim, é bem difícil concluir que, gastronomicamente falando, a visita ao Maní foi menos incrível do que eu esperava (mas também, verdade seja dita, eu esperava que cada garfada fosse explodir minha mente, o que é algo meio impossível de atingir). Já a Chris não tinha toda essa carga emocional envolvida, e achou a experiência boa, mas não tanto assim. Como representantes da classe trabalhadora, não conseguimos fazer refeições com esse patamar de preço a todo momento. Então ambos concluímos que não valeria a pena uma segunda visita ao Maní. Mas sabe aquela história de "não volto nem pagando"? Não é o caso aqui. Se alguém pagasse a gente voltaria. E iríamos de menu-degustação!

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 7 e 7
Entrada(2): 6 e 8,5
Prato principal(3): 7 e 7
Sobremesa(2): 5 e 7,5
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 6,08 e 7,25
Voltaria?: Não e não

Serviço:
R. Joaquim Antunes, 210 - Jardim Paulistano, São Paulo - São Paulo
Telefone: (11) 97473-8994
Site: https://www.restaurantemani.com.br/
Instagram: @manimanioca

Nenhum comentário:

Postar um comentário