Para comilões, estar em São Paulo e não ir a uma pizzaria é como estar em Cuiabá e não sentir calor, como diria meu amigo Samuel, o Rosa. Mas qual escolher, em uma cidade com mais de quatro mil pizzarias? Talvez um bom caminho seja ouvir os italianos. O 50 Top Pizza, apesar do nome em inglês, é um ranking italiano, que frequentemente coloca o Leggera entre as melhores pizzarias do mundo, e no ranking mais recente a colocou em terceiro (veja
aqui). Além disso, o estabelecimento sempre aparece em outros rankings, tanto nacionais quanto internacionais. Nos pareceu um bom motivo para escolhê-la para nossa noite da pizza em São Paulo.
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Chegando leves no Leggera
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Como se pode ver aí acima, está faltando uma letra no letreiro da fachada. A questão filosófica que se apresentava era: estaria faltando alguma coisa também na pizzaria? Ainda não tínhamos essa resposta. Antes de termos a solução para esse mistério, fomos direcionados a uma sala de espera, teoricamente porque estariam arrumando a nossa mesa. Ficamos ali por uns 5 minutos, e já deu para notar o orgulho que a Leggera tem dos prêmios conquistados, já que a salinha tem várias menções às honrarias. Fomos direcionados para nossa mesa, e honestamente não deu para entender muito bem o motivo da espera - achei que teria ao menos nossos nomes escritos em um castiçal de ouro cravejado de diamantes, mas era só um jogo americano de papel mesmo.
O ambiente do lugar pode ser chamado de aconchegante ou de apertado, a depender do ânimo de quem fala. A decoração é simples, com alguns quadros com motivos italianos, inclusive uma foto do Maradona, e uma camisa do Napoli, o time de futebol de Nápoles, com um autógrafo do Careca, jogador brasileiro que atuou por muito tempo na equipe (obrigado ao Leandro Iamin e ao Carlos Ghiraldelli por detectarem de quem era o autógrafo, que o são-paulino aqui vergonhosamente não conseguiu!).
Obs: a porquera da câmera do celular não se deu muito bem com a iluminação da Leggera, portanto as fotos não ficaram muito boas, motivo pelo qual pedimos desculpas antecipadas.
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Era a isso que se resumia a preparação da mesa
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É diploma pra todo lado, faltaram os da Chris
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Uma lépida passada de páginas do menu
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O vinho da casa, em taça
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O autógrafo do pouca-telha, não reconhecido pelo escriba
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O cardápio lista algumas opções de entrada, como burrata, polpettine e até mesmo pizza frita. Mas resolvemos pular essa parte e partir logo para as pizzas. A Leggera trabalha com pizzas individuais, servidas direto no prato, com preços que variam entre R$ 62 (Marinara, basicamente o nosso alho e óleo) e R$ 85 (Cacio e Ragù, que tem carne de wagyu entre os ingredientes). O menu é dividido entre pizze rosse, que tem molho de tomate como base, e pizze bianche, que não tem molho de tomate como base. Aliás, o molho de tomate não aparece no cardápio simplesmente como "molho de tomate", mas sim como "Pomodoro San Marzano dell’agro Sarnese-Nocerino DOP". É ou não é coisa fina? Se não é, ao menos parece.
A Chris já tinha feito a escolha dela antes de saírmos de casa: margherita. Que aqui aparece no cardápio como Margherita Verace (R$ 69) e com o adendo: 2X Eleita Melhor Margherita e Melhor Pizza de São Paulo PALADAR ESTADÃO 2022 e 2023. Baita pressão. Os ingredientes, além do molho de tomate chique, são: manjericão, muçarela de búfala, queijo Grana Padano e azeite extra virgem. A proporção é bem diferente daquela das pizzas de IFood, que são basicamente pizza de queijo com umas folhinhas avulsas de manjericão e uns tomates perdidos. Aqui o molho de tomate é a estrela. E que estrela. Chris disse que foi o melhor que ela já comeu na vida (eu dei uma roubada e endosso). Atrelado ao delicioso queijo e ao manjericão, que já nasceu bom, fizeram a Chris muito feliz. Por enquanto não vou falar sobre a massa.
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Vou pegar uma colher mágica e tentar capturar esse molho
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Eu escolhi uma pizze bianche, sem o molho de tomate - o que foi, obviamente, um erro. Minha opção foi a La Divina Commedia (R$ 78), que também traz a pressão de ter vencido um prêmio, o Trofeo Emergente 2014 - Pizza Festival Napoli. Os ingredientes são: muçarela de búfala, manjericão, provolone defumado, linguiça curada picante, cebola roxa caramelizada, Grana Padano e azeite extra virgem. Claro que o molho de tomate faz falta na paleta de cores, mas o fato é que não achei a pizza muito bonita. A cebola roxa caramelizada estava embaixo das bolotas de queijo, e as garfadas com ela eram as mais aprazíveis, pelo contraste com a picância da linguiça. Mas no fim das contas quem ficava no paladar era a linguiça. Não desgostei, mas fiquei com inveja do molho de tomate da Chris. Por enquanto não vou falar sobre a massa.
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Meio desprovida de beleza, é preciso dizer
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Agora vou falar sobre a massa. O fato é que estamos acostumados a massas mais crocantes, e a massa da pizza napolitana tem uma textura um pouco mais borrachuda. Isso ajuda, inclusive, a dobrar a pizza ao meio e comê-la com as mãos, algo que é comum em Nápoles (fato confirmado com o supracitado Leandro Iamin e com um colega de serviço que também já esteve por lá). Então não podemos considerar essa "borrachudez" um defeito, embora cause estranheza. Aliás, essa maneira de comer, dobrando a pizza, seria o ideal, já que a pizza é maior que o prato, como se pode ver nas fotos acima, o que dificulta um pouco cortar com garfo e faca, ao menos nos primeiros pedaços. Depois vai "sobrando" mais prato e fica mais fácil.
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Você consegue, tenho certeza que você consegue
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Custava comprar uns pratinhos maiores?.
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Sim, é claro que, entre as opções de sobremesa, temos cannoli e temos tiramisù. Mas fomos em outro clássico italiano, e escolhemos o Semifreddo Ao Cacao (R$ 34, creme gelado de mascarpone e cacau em base de farofa de biscoito cantucci de amendoas finalizado com calda de frutas vermelhas). Apresentação bem bonita, sem economia na calda de frutas vermelhas, que estava gostosa, com acidez bem equilibrada. Também não economizaram nas frutinhas vermelhas, vieram em boa quantidade. Biscoitinho bem crocante, sobremesa bem equilibrada e com diversas texturas. Não surpreendeu mas agradou bastante.
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Essa foto até que saiu boa, hein?
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Sobre o serviço, é eficiente, mas não perfeito. Não curtimos muito aquela espera inicial, pareceu uma coisa tipo "vamos fazer esperar um pouquinho porque é chique". Eu acho cafona. Outra coisa é que nem todo mundo que vai a uma pizzaria napolitana está acostumado com pizzarias napolitanas, pode ser a primeira vez, como era a nossa. Então acho que valeria explicar sobre a questão da massa mais borrachuda, sobre a possibilidade de comer com as mãos, enfim, essas particularidades. O restaurante estava bem cheio, mas mesmo assim o serviço não demorou, se mostrou atento, apenas com uma pequena demora na hora do pagamento. Também gostamos da sugestão de pedirmos um vinho em jarra, já que iríamos pedir duas taças que acabariam custando quase o mesmo preço da jarra, mas com bem menos volume.
Acho que o texto acima responde à pergunta sobre se falta alguma coisa ao Leggera, além da letra "e" no letreiro. Sim, tivemos alguns probleminhas, especialmente relacionados ao serviço, mas também ao ambiente, que não curtimos muito, achamos que falta mais vida. Além disso, não fiquei assim apaixonado pela minha pizza. Nossa principal lembrança vai ser o maravilhoso molho de tomate, mas ele não é suficiente para nos fazer voltar. Nos contentaremos com a lembrança. Pensando bem, a letra "e" não está faltando no letreiro. O que falta é a luz para fazê-la aparecer. Metaforicamente, foi essa pequena luz que faltou em nossa experiência na terceira melhor pizzaria do mundo.
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 5 e 5
Serviço(2): 6 e 6,5
Prato principal(3): 7,5 e 6,5
Sobremesa(2): 6 e 7,5
Custo-benefício(1): 6 e 6
Média: 6,25 e 6,35
Voltaria?: Não e não
Serviço:
R. Cap. Pinto Ferreira, 248 - Jardim Paulista, São Paulo - São Paulo
Telefone: (11) 3884-6585
Site: https://www.pizzerialeggera.com.br/
Instagram: @leggerapizzanapoletana
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