Perdizes. Vila Madalena. Jardins. Itaim Bibi. São Paulo é cheia de bairros famosos por sua vocação turística. A Vila Medeiros, na Zona Norte, nunca esteve entre eles. É um bairro marcadamente residencial, afastado das principais atrações da cidade. Mas um restaurante colocou a região entre os destinos imperdíveis para quem gosta de comer bem: o Mocotó, do chef Rodrigo Oliveira. Hoje já existe uma nova unidade, na Vila Leopoldina, mas queríamos ir lá onde tudo começou, em 1973, como uma casa do norte comandada pelo pai de Rodrigo, o Sr. José de Almeida.
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| Na quebrada! |
Estávamos sem carro em São Paulo, mas o acesso não é tão difícil quanto possa parecer. Basta pegar a Linha Azul do metrô sentido Tucuruvi, e descer na estação final. Dali, um carro de aplicativo não deve custar mais de R$ 15 para levar até o Mocotó, em menos de dez minutos. Antigamente a casa não trabalhava com reserva, mas hoje é possível reservar, o que torna a experiência mais tranquila. Chegamos um pouco antes de o restaurante abrir, e a casa é preparada para isso: há diversos banquinhos do lado de fora, com toldos para proteger do sol - ou da chuva. Ao meio-dia em ponto as janelas e portas se abrem, e a enorme equipe recebe a todos, sempre com um sorriso no rosto. O restaurante é amplo, com alguns salões bem espaçosos e claros. Fomos acomodados em um corredor longo, com janelas de vidro, muitas samambaias do lado de fora, e bem próximo à cozinha, de onde saíam os pratos.
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| Chris ainda no banquinho da espera, mas com as janelas já abertas |
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| É com "z", mas tudo bem, perdoado está |
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| O corredor é longo, mas não tanto, tem espelho no fundo |
Tudo no Mocotó parece pensado para homenagear as tradições, sem que isso signifique um restaurante atrasado no tempo. Vejamos, por exemplo, o cardápio físico. É daqueles plastificados, bem típicos de lugares simples. Mas tem alguns desenhos, é bem diagramado, bem explicativo, e resolve tudo em apenas uma página, frente e verso, um lado para as comidas, um lado para as bebidas (existe um outro cardápio só para as sobremesas e digestivos, mas falaremos dele depois). Existem opções de petiscos (como torresmo e queijo de coalho com melado, preços por volta de R$ 30), porções (dadinhos de tapioca, moela, etc, indo de R$ 32,90 a R$ 49,90) e escondidinhos (R$69,90), para uma pegada mais de boteco. Depois o menu está dividido entre Tradicionais (baião-de-dois, sarapatel, caldo de mocotó, etc) e Especialidades (carne de sol na brasa, dobradinha, joelho de porco, etc). Para os Tradicionais, é possível escolher entre quatro opções de tamanho (mini, pequeno, médio e grande), o que facilita bastante caso haja o desejo de experimentar vários pratos. As versões minis tem preços que começam em R$ 24,90. Já nas Especialidades não há opções de tamanho, são pratos a partir de R$ 99,90 que são capazes de servir duas pessoas.
Sabe aqueles dadinhos de tapioca, que hoje são onipresentes em qualquer cardápio de boteco? Eles são uma invenção de Rodrigo Oliveira, o chef do Mocotó. Claro que não poderíamos ir embora sem experimentar o original, por isso começamos nossa farra com uma porção de seis unidades de dadinho de tapioca (R$ 26,90). É crocante por fora, é cremoso por dentro, é saboroso, é delicioso. Embora o chef Rodrigo não seja nada mesquinho com sua receita, que hoje todo mundo tem, acho que nunca comemos dadinhos tão bons. Claro que vieram acompanhados do clássico molhinho de pimenta agridoce, que alavanca ainda mais o sabor do petisco.
Digamos que os dadinhos foram um aperitivo. Resolvemos pedir dois pratos da seção de Tradicionais, na versão mini, para servirem como nossas entradas. Chris escolheu a mini-favada (R$ 32,90, fava amarela cozida lentamente com linguiça, bacon e carne-seca). Na verdade ela iria escolher o mini-feijão-de-corda, mas na hora de pedir eu me confundi, e acabei pedindo a favada pro garçom. Ela nem me xingou tanto, porque a favada estava muito saborosa, intensa, mas sem agredir, equilibrada. Vários ingredientes com personalidade, mas deu para sentir cada um deles.
Eu, estando no Mocotó, não resisti a pedir o mini-caldo-de-mocotó (R$ 24,90) que, segundo o cardápio, é uma "receita exclusiva preparada da mesma maneira há mais de 50 anos". Dá para entender porque não mudaram a receita: é uma delícia de caldinho, e sem economizar nos pedaços de tutano, que vez ou outra aparecem na colherada. Queria fugir do clichê, mas não tem jeito: é comida que aquece a alma. A sensação é mesmo de que estamos experimentando algo de família, uma receita que vem de pai pra filho.
Como pode ser visto acima, os dois caldos vieram servidos na cumbuca. É bowl não...é cumbuca! O Mocotó tem uma cerveja própria, fabricada pela Bamberg, de Votorantim (SP). Uma parceria certeira, porque com a Bamberg não tem erro. É do estilo Helles, bem leve, combina muito bem com as comidas de boteco. Falando mais um pouquinho sobre as bebidas, há uma quantidade razoável de cervejas, nada muito fora da curva, mas tem ali as lagers mais conhecidas, além dessa helles, uma com mel e limão, uma witbier e uma IPA. Seria bem interessante acrescentar ao menos uma cerveja ácida, talvez uma catharina sour, o estilo genuinamente brasileiro. Há também caipirinhas diversas (pedi uma com caju, limão-cravo e mel), alguns poucos vinhos e coquetéis (inclusive não-alcoolicos). Além disso, há refrigerantes (até cajuína, que é bem difícil de encontrar no sudeste), sucos e chás.
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| Não é uma reles helles |
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| E esse pingaiada não parou por aí, vai ter mais |
Obs: para as nossas notas de entrada fizemos uma média entre os dadinhos e os caldos.
Para o principal, fizemos o seguinte: pedimos um prato da seção de Especialidades, a Carne-seca com cebola roxa, servida com pimenta biquinho, mandioca cozida e jerimum assado (R$ 109,90) e mandamos vir também um mini-baião-de-dois, que vem acompanhado de farofa e purê de mandioca (R$ 39,90). Difícil dizer o que estava mais gostoso. Quer dizer, na verdade para mim não é: o purê de mandioca é uma das melhores coisas que já coloquei na boca (segure esse pensamento impuro!). Chris se apaixonou pelo jerimum assado, que aliás vem à mesa parecendo uma bela fatia de bacon! Chris também adorou o fato de a carne vir bem limpinha, sem nervo (né, Maní?) e com pouca gordura. A farofa não é crocante, ao contrário, é bem macia, parece quase não passar por cocção. Mandioca cozida derretendo, baião-de-dois soltinho e saboroso. Pra ser perfeito só faltou um vinagrete. Um banquete. Nem vou falar de novo o tanto que aquece a alma...
Para o principal, fizemos o seguinte: pedimos um prato da seção de Especialidades, a Carne-seca com cebola roxa, servida com pimenta biquinho, mandioca cozida e jerimum assado (R$ 109,90) e mandamos vir também um mini-baião-de-dois, que vem acompanhado de farofa e purê de mandioca (R$ 39,90). Difícil dizer o que estava mais gostoso. Quer dizer, na verdade para mim não é: o purê de mandioca é uma das melhores coisas que já coloquei na boca (segure esse pensamento impuro!). Chris se apaixonou pelo jerimum assado, que aliás vem à mesa parecendo uma bela fatia de bacon! Chris também adorou o fato de a carne vir bem limpinha, sem nervo (né, Maní?) e com pouca gordura. A farofa não é crocante, ao contrário, é bem macia, parece quase não passar por cocção. Mandioca cozida derretendo, baião-de-dois soltinho e saboroso. Pra ser perfeito só faltou um vinagrete. Um banquete. Nem vou falar de novo o tanto que aquece a alma...
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| Comidança por um ângulo |
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| Comidança por outro ângulo |
Como dito ali acima, existe um cardápio separado para sobremesas (assinadas pelo chef Alex Sotero), doces e digestivos. Um cuidado para essa etapa da refeição que é muito raro de se ver. São seis sobremesas (pudim de tapioca, musse de chocolate com cachaça, etc, todas por volta de R$ 30), quatro sabores de sorvete (inclusive de rapadura, R$ 26,90), seis doces artesanais (como goiabada e bananada, todos servidos com queijo coalho, R$ 28,90), além de tapiocas doces (R$ 32,90). Entre as bebidas, cafés de vários tipos (inclusive alguns coados na mesa, à frente do cliente), chás digestivos e as "meladinhas", bebidas com base de cachaça e adição de frutas e especiarias, que se assemelham a um licor.
Não houve muita discussão sobre a escolha da sobremesa que dividiríamos (você viu o quanto que comemos? Não dava pra ser uma pra cada): Chris vaticinou que seria a Cartola de Engenho (R$ 29,90, "o clássico pernambucano que combina banana, queijo-manteiga e farofinha de açúcar e canela"). Belamente apresentada, um ótimo exemplo do que citei acima, de respeitar as tradições mas dando um leve toque de modernidade. E não tem como errar na garfada, sempre vai ter banana, queijo, calda e farofinha. Uma combinação já testada e aprovada, que o Mocotó entrega com perfeição.
Não houve muita discussão sobre a escolha da sobremesa que dividiríamos (você viu o quanto que comemos? Não dava pra ser uma pra cada): Chris vaticinou que seria a Cartola de Engenho (R$ 29,90, "o clássico pernambucano que combina banana, queijo-manteiga e farofinha de açúcar e canela"). Belamente apresentada, um ótimo exemplo do que citei acima, de respeitar as tradições mas dando um leve toque de modernidade. E não tem como errar na garfada, sempre vai ter banana, queijo, calda e farofinha. Uma combinação já testada e aprovada, que o Mocotó entrega com perfeição.
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| E a banana vem meio "disfalçada", pra quem a acha feia |
E pra finalizar, Chris tomou um café coado da Fazenda Pessegueiro (R$ 8,90 - sim, todos os cafés, assim como outros itens do cardápio, trazem o local de origem do produto) e eu tomei uma meladinha Bonina (R$ 19,90, cachaça envelhecida, baunilha, casca de laranja e semente de amburana). Ambos muito bons, fui bobo de não trazer uma garrafa de Bonina, que é vendida na lojinha do Mocotó.
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| Ma bebe, hein? |
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| Café, me dá café, mais café, quero café, cafééééééé... |
Não comemos nem bebemos mais nada (por pura falta de espaço estomacal), mas nossa experiência ainda não tinha acabado. Nos andares superiores existe um mini-museu, contando a história do Mocotó, que tem uma linha do tempo do restaurante e um cenário simulando como era o lugar quando ainda era a casa do norte Irmãos Almeida. E ainda há um mirante, com bela vista da região.
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| Duro é subir as escadas depois de comer tanto |
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| Calma, ele não bebeu mais, é só fingimento |
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| E não é que a vista é bela mesmo? Dá-lhe Vila Medeiros! |
Nós fomos os primeiros a nos sentar nos banquinhos de fora do Mocotó, antes de ele abrir. Mas não ficamos nos lugares mais próximos da porta, e outras pessoas foram chegando. Na hora da abertura, fomos para trás dessas pessoas, não íamos brigar por causa disso - até porque tínhamos reserva. Pois não é que o funcionário que fica na porta nos chamou pra passar na frente, porque disse que nos viu chegando antes de todos? Demoramos até para entender, não estamos acostumados com isso. Isso exemplifica muito bem a excelência do serviço no Mocotó. Não somos fiscais do Ministério do Trabalho, então não podemos atestar com certeza, mas a impressão que dá é que são todos felizes em trabalhar ali. O serviço é absurdamente veloz (entre pedir uma cerveja e ela chegar deve ter demorado menos de um minuto), mas sem perder a simpatia e a espontaneidade. Em uma quinta-feira, o lugar não estava abarrotado, mas estava bem cheio. Ainda assim, nunca faltavam funcionários atentos a qualquer gesto. Ou até a um não-gesto, como quando eu coloquei o cardápio no parapeito da janela ao meu lado, e em alguns movimentos que eu fazia ele roçava no meu braço. Logo veio um funcionário e tirou o cardápio dali, percebendo meu leve incômodo. É um nível de atenção muito elevado.
Sempre deixo esse último parágrafo para as observações finais e para a decisão sobre se voltaríamos ou não ao restaurante. Mas nem vou me alongar, acho que o que vai acima já foi bem eloquente em dizer que sim, nós voltaríamos ao Mocotó. E vou até mudar o tempo verbal: nós vamos voltar ao Mocotó!
Sempre deixo esse último parágrafo para as observações finais e para a decisão sobre se voltaríamos ou não ao restaurante. Mas nem vou me alongar, acho que o que vai acima já foi bem eloquente em dizer que sim, nós voltaríamos ao Mocotó. E vou até mudar o tempo verbal: nós vamos voltar ao Mocotó!
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 7,5 e 8,5
Serviço(2): 9 e 10
Entrada(2): 9,5 e 8,5
Prato principal(3): 9 e 9
Sobremesa(2): 8 e 7,5
Custo-benefício(1): 9 e 10
Média: 8,66 e 8,83
Voltaria?: Sim e sim
Serviço:
Av. Nossa Sra do Loreto, 1100 - Vila Medeiros - São Paulo - São Paulo
Telefone: (11) 2951-3056
Site: https://mocoto.com.br/
Instagram: @mocotorestaurante


















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