sexta-feira, 21 de junho de 2024

Insólito Gastrobar (São José dos Campos - SP) - 18/06/2024

 

    Contrário ao costume. Inabitual. Incomum. Extraordinário. Essas são algumas das definições do dicionário para a palavra "insólito". Não parece um nome ruim para um gastrobar, um tipo de empreendimento que não é muito comum em São José dos Campos. A essência de um gastrobar, como o nome indica, é unir um ambiente de bar, mais informal e irreverente, com petiscos e pratos mais elaborados e criativos, que não são comumente encontrados em bares. Foi para essa missão insólita que Chris e eu nos rumamos em uma noite fresca de terça-feira - com a adição luxuosa de meu irmão Carlos, vulgo Cazaugusto, vulgo Boto, que se juntou a nós.
 
Família Vulgo: Vulgo Boto, Vulgo Fê e Vulgo Chris
 
    O cuidado na decoração já chama a atenção do lado de fora, com o belo e criativo logo do bar desenhado em uma parede, ao lado de mesinhas, uma bela árvore e a frase "O incomum em cada detalhe". Do lado de dentro um primeiro salão com o balcão do bar, uma estante com diversas garrafas coloridas, e muito uso de tijolinho à vista, pra dar aquele toque vintage da moda. Também há um corredor lateral, coberto, com algumas mesas. Indo para os fundos do restaurante encontramos mais alguns elementos de decoração antigos, como telefones e televisores, além de uma prateleira cheia de CDs (pois é, CDs já são considerados peças de museu). Para finalizar, uma grande área aberta na parte de trás do restaurante, com diversas mesas de tamanhos e alturas diferentes. Em um cantinho, quase imperceptível, o elemento mais insólito da decoração: um orelhão. Importante lembrar aos fumantes: tanto nas mesinhas da frente como na parte aberta ao fundo é permitido fumar. Chris ficou saltitante com essa informação.

É muito capricho, né não?

Taças, tijolos à vista, garrafas coloridas

Mais um pouco de tijolinhos à vista e o corredor lateral
 
Peças de museu (não o Boto, que é peça de rio)
 
Tem aquecedor, mas só um trouxa foi de camiseta curta

Um orelhão é insólito o suficiente pra você?

    Como se trata de um gastrobar, convém escrever brevemente sobre as bebelanças disponíveis no local. De cerveja eles estão muito bem servidos, já que trabalham com toda a linha de chopp da Cervejaria Bamberg (que é boa pacacete). Para os drinks são diversas opções, quase todas clássicas, não existem muitas invenções (algo que eu acho que poderia ser melhor trabalhado). A casa tem parceria com os Alquimistas da Serra, uma destilaria artesanal de São Francisco Xavier. Segundo nos foi informado, em breve eles vão começar a fazer as destilações no próprio local. Durante nossa estada tomamos alguns chopps (média de R$ 14 o de 300ml e R$ 19 o de 500ml), um Bloody Mary (bonito, gostoso e picante, R$ 30) e um drink sem álcool chamado Manguito Sour (bem refrescante, com diversas frutas e espuma de gengibre, R$ 23).

"Bonito, gostoso e picante" (that´s what she said)

O roxinho são gotas da flor Clitorea Ternatea (serião memo)

Pessoas iluminadas

    Como é de se esperar em um gastrobar, o cardápio é bem curto. A maior parte das opções fica na seção "Entradas e Petiscos", recheada de coisas bem apetitosas. Não há nada assim muuuito insólito, mas existem algumas coisas não tão comuns, como o "Cocktail de camarão" (R$ 49) e o "Bolinho de abóbora kabocha com gorgonzola e molho de laranja e mel" (5 unidades, R$ 28). Optamos por escolher três entradas diferentes, para dividirmos entre nós (as notas finais são uma média de nossa apreciação das três). 

    Nossas escolhas foram: pastel de camarão com molho vinagrete (4 unidades, R$ 34), bolinho de bacalhau com geléia de abacaxi com pimenta (6 unidades, R$ 36) e o ceviche havaiano (tilápia marinada na vodka aromatizada com mix de limões, manga e especiarias, R$ 32). Todas as porções são muito bem servidas e condizentes com o preço. Pastéis muito bem recheados (tipo uns 10 camarões dentro de cada), com massa bem crocante e o vinagrete ajudando a elevar o sabor - mas o recheio poderia ser mais cremoso, com algo para "unir" os camarões. Os bolinhos de bacalhau estavam gostosos, embora eu tenha achado que faltou um pouco de bacalhau no recheio. Mas a massa tava bem crocante por fora (uns dois vieram um pouco queimadinhos), com o recheio bem cremoso por dentro. Achei a geléia de pimenta um tanto sem graça, faltou picância. O ceviche havaiano estava bem refrescante, muito saboroso, com acidez na medida, e acho que foi o preferido de todos.

Um chopps e quatro pastel

Bolinho de bacalhau pra quem não gosta muito de bacalhau

É um belo bocado de ceviche

    Fora da seção de "Entradas e Petiscos" temos saladas, pratos principais, caldinhos, vegetarianos e alguns hambúrgueres. Entre os pratos principais são seis opções, e acho que é onde reside o principal problema do Insólito: nada faz jus ao nome do lugar ou ao que se espera de um gastrobar. São opções bastante comuns, clichês mesmo, sem nada de insólitas.

    Chris escolheu o Filé Insólito (risoto de cogumelos, filé mignon e molho rôti, R$ 77). Apresentação bonita, com o filé no meio do prato, sobre o risoto, com o molho bem escuro por cima. Já perdi a conta de quantas vezes escrevi isso aqui no blog desde 2014, mas vamos lá de novo: o ponto da carne da Chris veio errado. Ela pediu mal passado e veio ao ponto. Mas ela comeu todo o filé com o molho. O grande problema estava no risoto, que ficou quase todo no prato. Estava com um sabor forte de álcool e muita acidez. Provavelmente usaram muito vinho, ou não deixaram o vinho evaporar. Um desastre.

A viola estava bela, mas o pão...

    Eu mandei ver um Medalhão do Chef (filé mignon com batata bolinha, tomate confit, alecrim e arroz de amêndoas, R$ 75). Coloquei nos parênteses a descrição do cardápio, mas as amêndoas ficaram nas amendoeiras, não chegaram ao prato. Em termos estéticos não tava lá muito bonito, um tanto amontoado. O meu filé veio ao ponto, que foi o ponto que eu pedi mesmo. Batatinhas ok (um pouco salgadas), tomate razoável, arroz legal. Uma boa comida, mas longe de valer os setenta e cinco mangos cobrados.

As amêndoas não vieram, e quem veio não disse a que veio

    Meu irmão estava lá pra comer, beber e se divertir, sem analisar porra nenhuma, como ele mesmo disse. Mas ele mandou dizer que o risoto de camarão tava bom, mas ele faria melhor, e que a couve crispy não tava crispyzada, tava xoxa. 
 
Ninguém há de reclamar da falta de camarões
 
    São apenas três opções de sobremesa, todas clássicas, mas com um toque diferente. A gente queria o Choco Gin (mousse de chocolate meio amargo e gin envelhecido, R$ 22), mas estava em falta. Ficamos com o Papaya Dream (creme de papaya com vermute artesanal, R$ 22). O creme tava quase no ponto de sorvete, e tava bem sem gracinha. As sobremesas são outro quesito em que o Insólito tem que dar uma "insolitada", não adianta só colocar um vermute artesanal numa sobremesa clássica e achar que tá resolvido. Inclusive a sobremesa funciona melhor com o clássico licor de cassis do que com o vermute.
 
Nhé

    O restaurante estava bem vazio, só havia mais uma mesa ocupada. O serviço todo foi feito por apenas um garçom. No quesito simpatia a nota é dez com louvor. Conversador, risonho, conhecedor do cardápio, falou até de assuntos alheios ao restaurante. Mas por vezes dava uma sumida, e também demorava um pouco para retirar os pratos em cada etapa da refeição. Outro problema do serviço, esse sem relação com o garçom, é que os pratos principais demoraram um pouco além do razoável para chegarem.

    Importante deixar claro uma coisa: nós queremos vida longa ao Insólito. São José carece de mais lugares como esse, que tentam fazer alguma coisa diferente, anormal, incomum, extraordinária. Mas não é fácil chegar a esses adjetivos. Com pouco mais de três meses de vida, acho que o Insólito ainda está tateando sua verdadeira vocação. Em nossa humilde opinião, para continuar como um gastrobar, ou seja, um lugar onde se pode fazer uma refeição completa, é preciso melhorar as opções e as preparações dos pratos principais e das sobremesas. Porque os diversos ambientes, o atendimento descolado, a decoração criativa, os petiscos gostosos e as boas bebidas certamente nos fariam voltar novamente ao lugar. Mas para uma noite de bar. Não de gastrobar.     

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8,5 e 9
Serviço(2): 6,5 e 6,5
Entrada (2): 8 e 7,5
Prato principal(3): 4 e 5
Sobremesa(2): 4 e 5
Custo-benefício(1): 5 e 6
Média: 5,91 e 6,41
Voltaria?: Sim e sim (pra botecar!)

Serviço:

Av. Anchieta, 149 - Jardim Nova America - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 99783-4244
Instagram: @insolito.br

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