terça-feira, 7 de outubro de 2025

Cucina si Italianissimo (Santana de Parnaíba - SP) - 27/09/2025

 


    Minhas tentativas de traduzir o que significa o nome do restaurante não foram totalmente conclusivas. "Cucina" significa cozinha, até aí, beleza, nem precisa ser genial pra saber. Aí esse "si" não é sim, mas o pronome impessoal, tipo "dane-se" ou "furique-se". O que leva a crer que "Cucina Si Italianissimo" deve ser algo como "Cozinha-se Italianíssimo", não querendo dizer que vão cozinhar o Andrea Boccelli, mas sim que a cozinha do lugar é muito da italiana. Independentemente da tradução, lá fomos nós para o agradável restaurante, situado bem no centro de Santana de Parnaíba, atrás da Igreja Matriz da cidade, para uma refeição abençoada pela avó de Jesus Cristo. Amém!

Não sabe italiano, mas pelo menos a foto ficou ó, uma m...

    Todo o centro de Santana é tombado pelo patrimônio histórico, o que significa dizer que jantamos em um casarão histórico do século 19. Toda a decoração remete mesmo ao passado, desde a fachada, com janelas de madeira, até a parte de dentro, com espelhos, móveis que poderiam estar em um museu e fotos antigas na parede. Realmente traz uma sensação de volta ao passado. Existem dois ambientes climatizados, mas também é possível ficar na parte da frente, que conta com algumas mesas, ou na parte de trás, também aberta, ao lado da piscina do casarão (a piscina deve ser um adendo mais recente ao imóvel).
 
Aí melhorou um pouco, dá pra ver alguma coisa

Óia, meteu uma foto artística

 
Tefolone antigo, e a Chris compondo na paleta de cores

Fantasma assutador no casarão de 1800 e trelelê

Chris sentindo as vibrações fantasmagóricas

    Apesar do apreço pela tradição, o Cucina não disponibiliza cardápio físico, apenas por QR Code. Já escrevi algumas vezes o quanto eu acho isso chato, mas vou escrever de novo: acho isso chato. Pois bem. São algumas opções de entrada, que são listadas como "Antipasti e insalate" (não tem como ler essas coisas e não imaginar a mãozinha balançado bem italianamente), e trazem pratos clássicos como brusquetas e burratas. Escolhemos uma não tão italianíssima, o Camembert Miele (queijo grelhado e cremoso finalizado com mel e farofinha de nozes, acompanhado de pão italiano torradinho, R$ 84). Você, que é espertinha, já deve ter notado que "miele" significa mel em italiano. E camembert é aquele queijo francês mesmo. Abelhas e geografia à parte, a entrada estava bonita, com o pão torradinho na medida certa, o queijo numa textura ótima, escorrendo no corte, e a farofinha de nozes com mel enriquecendo cada garfada - inclusive, poderia ter vindo mais dela. 

Tem lá sua beleza, o camembert com pães italianos


    Para os pratos principais as opções são bem variadas, e divididas em várias sub-seções. Primeiro temos "Pasta di grano duro", que são as opções de massa seca, focada em pratos com linguine e penne. Depois vem os "Risotti", eles mesmos, os risotos, que não poderiam faltar. Em seguida o menu traz os pratos de "Pasta fresca", ou seja, de massa fresca, como nhoque e lasanha. Depois há uma boa quantidade de pratos "Vegano e low carbo", em número bem maior do que costumamos encontrar, o que faz do Cucina uma ótima opção para quem busca aquela saudabilidade. Por fim temos "Le carne e i pesci", que são carnes e peixes, todos com acompanhamento ou de massa ou de risoto. Para os papais e mamães, tem também opção Kids. Ou seja, não dá pra reclamar de falta de variedade. Todos os pratos são individuais, e a imensa maioria fica abaixo dos cem reais.

    Ambos escolhemos pratos da seção "Pasta fresca". Chris escolheu o Gnocchi Fico e Parma (nhoque de batata vermelho com creme de queijos, parma , figo fresco e farofa de nozes, R$ 92). Essa é a descrição exata do prato no cardápio, mas como o nhoque não é vermelho, suposmos que a batata utilizada seja vermelha, a batata Asterix. Mas a concordância de gênero foi o menor dos problemas. Podemos dizer que a Chris gostou de todas as garfadas - enquanto durou o presunto. Ele trazia o sal que faltava ao creme de queijo, deveras insosso. O figo nunca foi conhecido pela personalidade forte, tadinho, então ele não ajudava muito. Pra piorar, a textura do creme foi ficando cada vez mais massuda à medida que o prato esfriava. Escrevo esse texto ainda sem saber a nota da Chris, mas creio que não será das melhores.

É, não vai passar de ano, viu?

Mas havia uma esperança de felicidade

    Minha massa fresca foi o Sorrentino alla Carne e Tartufo (produção própria limitada! Massa, recheada com ossobuco, cozido por duas horas no vinho tinto, servido na manteiga trufada e tomatinho cereja, R$ 108). A contação de história da descrição é boa: produção própria limitada, cozido por duas horas, um canto da sereia que me encantou. O tal sorrentino parece um ravióli, e é invenção de nossos hermanos argentinos (apesar de homenagear a cidade de Sorrento, na Itália). Nada de miséria no recheio, muita carne, molho delicioso, com aquela untuosidade da manteiga que amarra todos os sabores, e cada tomatinho cereja fazendo a alegria do meu paladar - e do da Chris, que de vez em quando roubava um pouco do meu prato, pra compensar a tristeza com o dela. Para citar um ponto negativo, o recheio poderia estar um pouco mais molhadinho.

Já esse passou de ano com alguma folga

Mas a cara não tava tão feliz, vê como são as coisas
    
    Resolvemos fazer a última parte da refeição nas mesas do lado de fora. Uma vez que nada nos chamou muito a atenção nas opções de sobremesas, acabamos indo para o clássico Tiramisù (uma combinação irresistível de camadas de suave creme de mascarpone e biscoitos champagne embebidos em café expresso, finalizado com uma polvilhada de cacau em pó, cada garfada traz o autêntico sabor italiano que derrete na boca! R$ 42). Perceba que a contação de história da descrição também é das boas. Mas, nesse caso, o que veio à mesa não correspondeu. A apresentação é no mínimo questionável, com o doce vindo dentro de um pote de vidro, meio que tirando toda a beleza intrínseca, inalienável e indubitável da sobremesa. O sabor de café estava presente em boa intensidade, mas aquela junção de todos os elementos do tiramissu acaba se perdendo com a apresentação "amacetada", já que ora vem muito de uma coisa na colherada, ora vem pouco de outra coisa. 
 
Um clássico servido de maneira não clássica, não deu bom

Sombras góticas na Via Buozzi

    Quando chegamos ao restaurante, fomos conhecer os ambientes, e chegamos a cogitar nos sentar na parte dos fundos, perto da piscina. Mas havia uma escada para chegar até lá, e eu comentei com a Chris, "melhor não, vamos dar trabalho pros garçons, ficar indo e voltando as escadas". Um dos garçons nos ouviu e disse, "estamos aqui para isso" - sem parecer que na verdade estava dizendo "vai, senta lá, desgraça". Profissionalismo, que chama. Fomos bem atendidos, inclusive com margem para uma brincadeira sobre o fato de a casa, talvez, quem sabe, abrigar fantasmas que podem fazer a mesa se balançar sozinha. Em relação aos tempos de entrega dos pratos, tudo dentro do normal. Na parte final, foi o garçom quem nos disse, quando saímos para a Chris fumar, que ele poderia nos servir a sobremesa na parte de fora. O único porém é que acabamos ficando "esquecidos" por lá, e depois eu tive que entrar para pedir a conta. Mas, de maneira geral, o serviço foi bem satisfatório.

    Santana de Parnaíba é uma cidade turística, cujas atrações preenchem um belo dia de passeio. Mais do que isso talvez seja exagero. Portanto, o mais provável é que não voltemos para lá - apesar de termos ficado com muita vontade de participar de alguma festividade que tenha o tradicional samba de bumbo da cidade como atrativo. Mas, mesmo que voltemos, provavelmente não voltaríamos ao Cucina si Italianissimo. Apesar da entrada interessante e do acerto no meu prato principal, o prato da Chris e a sobremesa, aliados à certa obviedade do menu, nos levam a essa decisão. Esperamos que Suzana Dias, neta do cacique Tibiriçá e fundadora de Santana de Parnaíba, nos perdoe. Junto com a avó de Jesus. Amém!
 
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7,5 e 8
Serviço(2): 7 e 7
Entrada(2): 7 e 7
Prato principal(3): 5 e 7,5
Sobremesa(2): 4 e 5
Custo-benefício(1): 5,5 e 6,5
Média: 5,95 e 6,91
Voltaria?: Não e não

Serviço:
R. Condé de Monsanto, 37 - Centro Histórico - Santana de Parnaíba - São Paulo
Telefone: (11) 94593-1913
Instagram: @cucinasiitalianissimo

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Quinta do Olivardo (São Roque - SP) - 13/09/2025

 
    Tô achando que vamos ter que mudar o nome desse blog. É o segundo post seguido em que Chris e Fê tem companhia para papar. Mas convenhamos que "Chris e Fê e Carlos e Regina e Edna vão papar" não seria um nome muito prático. Melhor deixar como está. Mas sim, fomos comemorar o aniversário de minha mãe em companhia das pessoas supracitadas, lá na Quinta do Olivardo, um restaurante que minha mãe sempre teve vontade de conhecer. O motivo dessa vontade é que Olivardo, o dono do restaurante, é figurinha carimbada em programas de culinária verpertinos que minha mãe assiste, sempre ensinando com simpatia os pratos que serve em seu restaurante de São Roque. Então pegamos o carro em um sábado e dirigimos por cerca de duas horas e meia até o local, onde fomos acomodados em uma mesa na varanda, que já estava reservada (é bom reservar, porque o lugar lota!). Mas você vai poder saber como foi sem sair do lugar e sem pagar (mas também não vai poder comer). Vem com a gente.
 
Vem com a gente que é sucesso

    A Quinta do Olivardo, assim como vários estabelecimentos na Rota do Vinho de São Roque, é muito mais do que um simples restaurante: tem pousada, vinícola, lago, arvorismo, tirolesa, loja e até uma foto grande da Vila do Chaves, com um barril na frente pros turistas entrarem e pagarem mico (em nossa turma, só o mais bobo pagou esse orangotango). É bem grande mesmo, e dá pra perceber o cuidado em cada cantinho. Como a reserva foi feita com boa antecedência, conseguimos uma mesa com bela vista para toda a propriedade.  

Suspeito que o mais bobo foi quem tirou essa

Suspeito que o mais bobo segura um copo de cerveja

Suspeitas confirmadas

    A ideia era passar bastante tempo por ali. Começamos, portanto, pedindo cerveja Original (600ml, R$ 21,00) e cerveja de trigo do Olivardo (600ml, R$ 38), que ficaram em um balde com gelo, para acompanhar as várias entradas que escolhemos: azeitonas portuguesas (R$ 15), bolo de caco (R$ 12 a unidade), alheira defumada (com batata assada, ovo frito e pão português, R$ 119) e bolinhos de bacalhau (R$ 15 a unidade). 

    As azeitonas portuguesas tinham aparência de azeitona e gosto de azeitona. Concluímos que eram azeitonas mesmo. Estavam boas, claro. O bolo de caco é um tipo de pão com especiarias, manteiga e alho, estava bem gostoso. A alheira é uma linguiça tipicamente portuguesa, com carnes diversas no recheio, além de miolo de pão e muito alho, como resta claro pela alcunha. Estava absolutamente deliciosa, foi geme geme pra todo lado. As batatas que acompanhavam talvez pudessem ter um pouco a mais de sal. O pão português estava macio e saboroso, e como ninguém se habilitou a comer o ovo, fui eu o responsável por colocá-lo sobre o pão e fazer um clássico pão-com-ovo. O bolinho de bacalhau, que está ligado à origem do restaurante, é crocante por fora, macio por dentro, e muito bem temperado, com salzinho na medida. Dá para entender perfeitamente a fama que o bolinho ganhou lá atrás, quando a Quinta do Olivardo vendia seus vinhos e só tinha o bolinho de bacalhau para oferecer.
 
    Obs: para as nossas notas, consideramos uma médias de todas as entradas. 
 
Conhece o caco? Esse é o bolo dele

Essa é a alheira com o zoiudo e as coradas batatas
 
Esses à frente são os bolinhos de bacalhau, atrás estão as azeitonas

E aqui todos juntos e já parcialmente ingeridos

    O cardápio principal tem várias opções de um peixe cujo nome não tô me lembrando. Rima com "au". Como era mesmo? Varapau? Jarapau? Carapau? Não, senhoras e senhores, é ele mesmo, o bacalhau, que vem em nada menos do que oito opções diferentes, todas girando em torno de R$ 450 no prato para duas pessoas (achamos que serve até três). Entre os peixes, há também pratos com sardinha e salmão. Evidente que há também algumas opções de carne bovina, como a Espetada Madeirense (contra-filé espetado no galho de louro, servido com arroz, salada, bolo do caco e milho frito, R$ 269 para duas pessoas) e o parmegiana (R$ 269 para duas pessoas). Também existe o cuidado de oferecer pratos para crianças (com nomes divertidos como "Infantil à moda do Enzo") e pratos para veganos e vegetarianos (com destaque para a lasanha de alcachofra).

    Resolvemos escolher dois pratos principais, que servem cada qual duas pessoas, para dividirmos entre nós cinco. Um deles foi o Bacalhau à Moda do Valdir (posta de bacalhau, alho laminado, tomate, cebola, pimentão vermelho, ovos cozidos, batatas coradas, azeitona portuguesa e cheiro verde, servido com arroz branco, R$ 456)). Veio também com brócolis, que não estava na descrição. Vamos começar falando do alho, que veio por cima: estaca crocante, sequinho, muito bom. Os legumes bem cozidos (o brócolis talvez pudesse estar mais macio). Molho delicioso, ótimo pra chunchar o pão no final do prato. Bacalhau lindo, umas postas enormes, difícil encontrar coisa parecida nos mercados. Mas a opinião da mesa foi unânime: dessalgaram demais os bichinhos. Experimentado à parte, sem o molho, o bacalhau não tinha sal praticamente nenhum. Depois do bolinho de bacalhau tão bem temperado, foi um pouco decepcionante, especialmente para a aniversariante Dona Regina, que gosta mais de cloreto de sódio do que dos filhos (vou desmentir porque ela vai ler isso e vai dizer que eu exagerei). Mas, no todo, com o molho, estava bom.

Pô, seu Valdir, faltou sal no bacalhau

    O outro prato que escolhemos foi o Leitão à Bairrada (assado no forno à lenha, servido com batata chips, salada verde e arroz com brócolis, R$ 289 - servido somente aos finais de semana). Este que vos escreve foi quem bateu o pé para escolhermos esse prato, seduzido que fui pela contação de história no cardápio, que dedica uma página inteira a ele, falando que se trata de uma das sete maravilhas da cozinha portuguesa, que foi cozido por três horas, que não-sei-quê-não-sei-que-lá. Vou nem falar dele ainda, começar falando das chips, bem crocantes, da salada verde, bem verde, e do arroz com brócolis, que tinha arroz e tinha brócolis, de fato. Mas o porco mais incrível das galáxias tinha uma pele incomível de dura (a contação de história dizia que era crocante) e vários pedaços com cartilagem. Agora foi minha vez de ficar deveras decepcionado. Claro que deu para comer alguns pedaços, claro que estava saboroso, mas me parece mais mérito do porco. Laranja combina demais com carne suína, mas custava tirar as sementes? Já tinha rolado o trabalho de descascar e fatiar, acho que o mais fácil era "dessementar". Enfim, um prato sofrível, nada recomendado.

E só de birra nem teve uma foto só pro leitão, mas ele tá ali, à direita

    Obs: para as nossa notas, consideramos uma média dos dois pratos principais.

    Acompanhamos a refeição com um vinho Henri (R$ 167, 750ml), feito com a uva tannat. A Quinta do Olivardo também é uma vinícola, e o rótulo traz a marca da casa. Vinho bem agradável. No entanto, estranhei o fato de o vinho ser feito com tannat, que eu já aprendi em outras viagens que é uma uva que não se dá muito bem aqui no sudeste. Então fui dar uma olhada no rótulo e vi que o vinho foi produzido por um outro CNPJ. Consultei na internet e vi que se trata do CNPJ da vinícola Lídio Carraro, uma das mais respeitadas lá de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Mistério resolvido. É uma prática muito comum, mas no meu entender deveria ficar mais claro pro consumidor que não se trata de um produto próprio.

Sendo produto próprio ou não, o rapaz bebe

    Minha mãe queria ver o Olivardo, mas ele ainda não tinha aparecido - embora já tivéssemos ouvido rumores de que ele estava na casa. Quando já tínhamos pedido a conta ele começou a circular pelas mesas, algo que, pelo que ouvimos, ele faz sempre. De longe minha mãe já fez saber que queria dar um abraço nele. E não demorou para que ele viesse até nossa mesa cumprimentar a aniversariante e, ainda por cima, mandar vir, na faixa, uma rabanada portuguesa com sorvete (rabanada Portuguesa com calda de mel, canela e Vinho do Porto, acompanhada de sorvete de creme, R$ 28,90 - pra quem paga, porque nós não pagamos). Foi a melhor coisa que ele fez, para apagar a lembrança do leitão: uma sobremesa deliciosa, com a rabanada quentinha, crocante, saborosa, fazendo contraste de temperatura com o sorvete de creme, este vindo com uma pequena concavidade em cima, suficiente para caber um porção da deliciosa calda de mel, canela e vinho do Porto. Que mané petit gateau que nada. Até Dona Regina, que não curte muito sobremesas (ela é fã de cloreto de sódio, lembra?) adorou o mimo. 
 
Aí senti firmeza, Seu Olivardo

Uma bela foto em plongê, fazendo jus ao mimo

    Em um restaurante tão grande e que tem lotação garantida em praticamente todo final de semana, claro que o serviço tem que ser extremamente eficiente. Do contrário é tragédia garantida, porque um erro leva a outro e, num universo de dezenas de mesas, o efeito dominó é certo. Em nossa experiência, todo o serviço foi exemplar. O foco é na eficiência, o que significa que a simpatia e a espontaneidade, embora presentes, não são o principal. E, nesse caso, tem que ser assim mesmo. Tudo funciona como uma máquina bem azeitada, para usar uma metáfora gastronômica bem portuguesa. Sempre tem alguém atento a qualquer gesto dos clientes, e chega a ser impressionante a velocidade de entrega dos pratos.

    Tudo o que vai acima deixa claro que, aniversário de mãe à parte, a experiência na Quinta do Olivardo teve lá seus altos e baixos, gastronomicamente falando. Depois dos intensos prazeres reservados pelas entradas, tivemos igualmente intensas decepções com os pratos principais, para, ao final, em uma virada digna de Agatha Christie, encontrarmos a redenção em uma sobremesa que chegou inesperadamente. Neste parágrafo final a gente sempre decide se voltaria ou não a um restaurante. É uma maneira de indicar a quem lê se a experiência realmente foi acima da média, seja por qual motivo for. Eu acho que as ótimas entradas e o ambiente agradável me permitiriam voltar, mas não para uma refeição completa. Talvez só para uns comes e bebes na tasca que fica ao lado do restaurante. Já a Chris acha que não valeria a pena uma nova visita - embora eu imagine que possa convencê-la com a lembrança da rabanada com sorvete, para a qual ela deu uma nota dez.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7,5 e 8
Serviço(2): 8 e 9
Entrada (2): 8 e 8,5
Prato principal(3): 6 e 6
Sobremesa(2): 10 e 8
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 7,58 e 7,66
Voltaria?: Não e sim

Serviço:
Estr. do Vinho (Spv-077), S/N - Sorocamirim, São Roque - SP
Telefone:   (11) 98856-3222
Site: https://quintadoolivardo.com.br/
Instagram: @quintadoolivardo

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Risoteria Villa Lobos (São José dos Campos - SP) - RETORNO - 02/08/2025

    Não é muito comum revisitarmos restaurantes, já que preferimos conhecer lugares novos. Se tivéssemos o hábito dinheiro de sair pra jantar fora mais vezes, talvez repetíssemos restaurantes com mais frequência. Mas sou muito fã da Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança, cujos associados oferecem uma receita especial no menu, que muda a cada ano, e que presenteia aquele que a pedir com um prato decorativo pintado à mão. E finalmente a cidade de São José dos Campos, em que habitamos, tem um restaurante que faz parte da associação. Para aumentar ainda mais nosso desejo de retornar à Risoteria Villa Lobos, tivemos as retumbantes companhias de meu irmão Boto, minha mãe Regina e nossa grande amiga Edna para essa revisita mais do que especial.

São ou não são retumbantes?

    Fui reler meu texto de 2016, quando visitamos o lugar pela primeira vez (você pode ler aqui), e, olhando as fotos, percebi que houve poucas mudanças, de maneira geral, no restaurante. Mas fica bastante clara a opção por mais sobriedade, um pouco menos de cor, o que já pode ser notado no próprio logotipo do restaurante (vou colocar mais abaixo o logotipo antigo, para comparação). Essa paleta mais sóbria também se reflete nas cadeiras e nas paredes, já que os quadros que antes enfeitavam o salão principal agora foram deslocados para um ambiente mais fechado, que parece ser usado para eventos. Nada que desabone, acho que é apenas um ajuste baseado nos frequentadores do local. Tínhamos duas fumantes no grupo, e é importante ressaltar que é permitido fumar nas mesas do lado de fora (ao menos a garçonete nos disse isso, apesar das placas indicarem o contrário), mas não fizemos essa opção por conta da friaca do inverno joseense. Ficamos instalados em um bela mesa redonda, logo na entrada do restaurante. 
 
O colorido logotipo antigo

As Cavaleiras da Távola Redonda (os dois rapazes eu não sei quem são)

Aquela selfie que quase desenselfa

    Apesar de termos feito um troca-troca de sabores, com todo mundo experimentando os pratos de todo mundo, vou me ater aqui à apreciação dos pratos solicitados por mim e pela Chris, para que esse texto não fique colossalmente grande, já que, como se poder perceber, o escriba tem uma tendência quase patológica de se estender demais em certas explicações, e vai colocando vírgulas e mais vírgulas, sem nunca chegar ao ponto. Feita a auto-depreciação, vamos falar das nossa entradas.

    Para essa parte da refeição o restaurante apresenta algumas opções bem italianas (bruschettas, polenta com linguiça), além de um tartar de salmão (R$79,90) e um vinagrete de polvo (R$79,90). Mas não foi nada disso que escolhemos. Fomos de Pães e Antepastos (fatias de pães de fermentação natural acompanhadas de trio de antepastos, R$ 34,90) e Burrata (burrata fresca com tomates sweet confit, pesto de manjericão e balsâmico, R$ 79,90). Começando pelos pães, estavam crocantes e muito saborosos (inclusive pedimos um cestinho extra por mais R$13,90). O trio de antepastos veio escalado com patê de azeitonas, patê de cogumelos e manteiga cítrica. Apesar dos patês muito bons, o destaque era a manteiguinha cítrica, deliciosa (dá pra comer pura, com o perdão dos cardiologistas). A burrata também estava uma delícia, com excelente proporção do pesto e da redução de balsâmico. Já os tomatinhos acho que poderiam vir em mais quantidade, posto que estavam saborosíssimos.

Muito pouco pão pra quem tem Dona Regina na mesa

Que burrata, dá zero pra ela

    "Para os pratos principais a estrela é a feijoad...mentira, mentira, claro que tem risoto de monte para escolher". O trecho anterior está entre aspas porque é um copia-e-cola da piada que eu fiz no texto de 2016 sobre o cardápio da Risoteria. Reciclagem é importante, temos que preservar o planeta de novas piadas infames. Melhor repetí-las. Pois bem, os risotos são separados em "da estação", "tradicionais" e "especiais". Há também duas opções de massas e uma seção chamada "Outras especialidades", com cinco pratos - embora três deles também tragam risoto na concepção. Algo interessante, e raro de se ver, é que o próprio cardápio traz a informação de que é possível fazer troca de acompanhamentos, e já lista as quatro possibilidades disponíveis para troca: salada de folhas, batatas fritas, linguini alho e óleo e legumes salteados. Ou seja, quem não gosta muito de risoto, tal qual minha mãe, consegue se virar bem.

    Chris foi nos Risotos Especiais, escolhendo o Risoto de Salmão Gravlax (risoto de arroz carnaroli, com salmão curado, limão siciliano e finalizado em azeite de manjericão, R$109,90). Veio bem bonitinho, com o salmão gravlax formando como que uma flor. O gravlax é uma receita escandinava que consiste em marinar o salmão cru em sal, açúcar e especiarias. Chris adorou o peixe, mas poderia vir um pouco mais. O risoto estava no ponto certo e bem temperado, com boa presença do limão, mas ela achou um pouco enjoativo quando chegou ao final.
 
"Formando como que uma flor", disse o Manchado de Cassis

    Eu escolhi o Prato da Boa Lembrança, que era o Confit de Pato (coxa e sobrecoxa de pato confitada a baixa temperatura servido com risoto de pêra caramelizada e molho de porcini, R$159,90). Começando pelo pato, estava macio, saboroso e com a pele levemente crocante. O risoto de pêra, se fosse pra comer só ele, estava um tanto doce, mas equilibrava bem com o gostoso molho de cogumelo, que poderia ter vindo em mais quantidade. A garfada completa tinha bastante contraste. O tamanho da porção foi perfeito. Em nossa primeira visita, comi em um prato que parecia um vaso, uma coisa enorme, vou até colocar a foto aí abaixo como curiosidade. Com certeza foi feito um ajuste nesse quesito, porque achei todos os pratos bem porcionados.
 
Lá vem o pato, pato aqui pato acoláááá
 
Ó pucê vê como que o prato é bonitinho

Versão antiga do prato e versão antiga do Fê, lá de 2016

    Existem cinco opções de sobremesa, sendo três de inspiração francesa (dois petit gateau e um creme brulê) e duas de inspiração italiana, que foram as que escolhemos. Chris optou pelo Affogatto (sorvete de baunilha finalizado com shot de café espresso, R$29,90). Não tem como ser muito bonito, porque o café quente derrete o sorvete, deixando a apresentação prejudicada. Mas obviamente que a Chris curtiu, bastante gosto de café, com o contraste do sorvete de baunilha de boa qualidade.

Prejudicada na feição, porém satisfatória no palato

    Eu, que já ando meio sacudo de petit gateau e creme brulê, optei pelo Semifredo de Chocolate Branco (chocolate branco, leve toque de maracujá e redução de vinho do porto, R$34,90). A descrição não diz, mas o semifredo vem também com uma farofinha de nozes por cima. Apresentação jeitosa, com algumas flores comestíveis para enfeitar (e comer!), e conjunto agradável, sem ser muito doce, bem equilibrado. Poderia vir um pouco mais da redução de vinho do Porto que eu não reclamaria. 

"Sacudo de petit gateau", disse o Seu Zé de Elencar

    Observação importante: apesar de eu ter mencionado, muito mal-educadamente, que estou sacudo de petit gateau, experimentamos os dois do cardápio, que foram pedidos pelas outras pessoas da mesa, e ambos estavam muito bons. Dá pra pedir sem medo - mesmo estando sacudo.

    Eu, meu irmão e Chris passamos a noite tomando Session IPA da Eisenbahn (R$14,90, 355ml), que foi colocada num baldinho com gelo. Minha mãe tomou um belo Gin Tônica (R$39,90), e Edna tomou suco natural (a partir de R$17,90).

    Quem gosta de formalidades no serviço deve passar longe da Risoteria Villa Lobos. As garçonetes e o garçom são espontâneos e brincalhões, assim como o maitre, que entra nas brincadeiras. Mas não se preocupe, não é nada intrusivo, você não vai se sentir em um acampamento de férias. Nós preferimos mil vezes a espontaneidade do que o engessamento e as mesuras excessivas. Até porque o serviço é eficiente, com os funcionários sempre atentos e com os tempos de entrega dos pratos bem dentro do esperado. Pedimos cinco pratos principais ao mesmo tempo,  todos chegaram juntos, e nenhum chegou frio. Isso indica boa organização na cozinha. Para ajudar, minha mãe ganhou um Gin Tônica de brinde, já que a garçonete ficou fã dela, só faltou pedir autógrafo. E, para ajudar ainda mais, ganhamos um petit gateau extra. A garçonete, sincerona, falou que foi uma pequena confusão na cozinha, fizeram um a mais, e resolveram trazer para nós. Ah, se toda pequena confusão na cozinha resultasse em um petit gateau de cortesia...

    Já é nossa segunda visita ao Risoteria Villa Lobos, e mais uma vez foi uma experiência bastante agradável, ajudada, dessa vez, pelas nossas companhias. Se você se atentou aos preços, percebeu que não se trata de um lugar barato. Reles mortais trabalhadores como nós não podem ir toda semana, sob o risco de insolvência. Isso, aliado ao fato de que o restaurante não apresentou tantas novidades em relação à nossa visita de 2016, nos fez decidir que não faríamos uma nova visita ao Risoteria Villa Lobos. As duas que fizemos já nos deram um ótimo panorama da cozinha da casa, que faz muito bem feito aquilo a que se propõe. Pensando bem, talvez um novo Prato da Boa Lembrança bem apetitoso até nos fizesse mudar de ideia...

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8
Serviço(2): 7 e 8
Entrada (2): 8 e 7
Prato principal(3): 7 e 8
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 7 e 7
Média: 7,33 e 7,75
Voltaria?: Não e não

Serviço:

Av. Heitor Villa Lobos, 841 - Vila Ema, São José dos Campos - São Paulo
Telefone:  (12) 3922-0505
Site: http://www.vlobos.com.br/
Instagram: @risoteriavlobos

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Cafezando #9: Café Borgô (Jundiaí - SP) - 18/07/2025

 

    Minha avó sempre dizia, "se não tem nada de bom para dizer sobre alguém, melhor ficar calado". Falseio a verdade, nenhuma de minhas avós jamais disse isso. Mas é algo bem digno de sabedoria de vó. Nesse texto eu provavelmente estarei indo contra essa avó imaginária, porque não temos muita coisa de positiva para dizer sobre o Café Borgô, onde nos sentamos para tomar um café da tarde em uma sexta-feira fria em Jundiaí. 

Sexta-feira fria e o jovem senhor em mangas de camisa

    Vamos dizer que ele é até bonitinho, vai, tem uma estante com alguns vasos de flores, garrafas de vinho e alguns livros, logo na entrada, ao lado de um sofazinho. Mesas e cadeiras de madeira, ajeitadinhas, umas luminárias feitas de bule, e não muito mais do que isso fazem a decoração do lugar. Tem lá seu charme, um charme discreto, do tipo que mal se mostra, mas tá ali. Viu, "vó que não existe", até que não falei mal, né?
 
Chris tenta se mimetizar no ambiente

 
Não adiantou, te achamos, senhora Chris

    A Chris começou pedindo um panini com queijo e tomate (R$ 16) e um cappuccino italiano (R$13). O panini tava cru, branquelo que só ele (e eu). O cappuccino, que deveria ter canela, tava aguado, sem muito gosto de café nem de canela - no máximo um tornozelo bem de longe, e olhe lá. Eu pedi a torta do dia (R$16), e me foi informado que a torta do dia daquele dia era a de frango com palmito. Eu curto um franguinho com palmitinho, mas o que veio foi torta de batata com milho. Eu achei que tava louco, pedi pra Chris provar, e ela atestou: não é frango e não é palmito. Talvez estejamos os dois loucos, vai saber. De beber eu pedi uma soda italiana de limão siciliano (R$16). A soda italiana é uma bebida que eu gosto de pedir quando não estou tomando álcool (quase nunca acontece), porque é bonita como um drinque e tem aquele gás gostoso que pinica a língua. Dá até um baratinho de leve. Mas não era nem bonita como um drinque, nem pinicava a língua. Xoxa que só ela (e eu). 

Vês, alvo, quase imaculadamente alvo

Do dia que não era do dia e soda sem pinicação

    Eu confesso que esse começo de refeição apagou minha luminária (porque não fumo cachimbo), e aí meio que larguei mão de anotar os preços, e tinha desistido de fazer da visita um texto aqui do blog, por não encontrar prazer em falar mal de um estabelecimento. No entanto, cá estou falando mal de um estabelecimento, e a partir de agora sem os preços que pagamos nos trecos. Mas já digo que tudo junto somado, noves fora trepa dois pede emprestado, deu 104 reais.

    Prosseguimos para os doces. Chris pediu um pedaço de bolo de fubá com goiabada, e até nesse quesito simplérrimo, erraram, porque o bolo tava insosso que só ele (e eu). Ela acompanhou o bolinho com um café espresso, que tava okayzinho. Eu pedi uma tortinha de maçã, que tava exposta na vitrine e me conquistou. Fez lembrar vagamente um apfelstrudel, tava passável. Para beber pedi um café catuaí 62 de Cristina (MG), feito na V60 (esse é o método de extração). Sempre quando pedimos café com algum método de extração diferente, a parte efetiva da extração é feita na mesa. É uma praxe, não seguida pelo Café Borgô. O café já chegou coado, e pode ter sido até na meia, não tenho como saber. Se foi na meia era uma meia saborosa, porque o café tava muito bom, suave, com um leve toque de chocolate (tá vendo, vovó de mentira, acabei de elogiar com veemência um dos itens consumidos).

Chris foi no básico, e no básico se deu mal

Fê apostou em certa ousadia, e se deu medianamente bem

    O pessoal era simpático, inegável isso, era simpático. Sim, me falaram errado o sabor da torta do dia, acontece, mas era um pessoal simpático. Mas você pode ser o funcionário mais simpático do mundo, apresentar o produto com o melhor sorriso, o mais cativante discurso, se o que vem depois não faz jus à sua fala, tudo esmorece e definha (ando lendo muito Machado de Assis). É que nem você preparar o público para um grande espetáculo e em seguida dizer "e agora com vocês Jorge Vercillo!" (puta sacanagem, não sei porque o Vercillo ficou com essa fama de chato, eu não acho tão chato assim, só tinha que ser escroto com alguém pra fazer funcionar minha analogia e escolhi um alvo fácil). 
 
    O mais pior de ruim do serviço foi que chegamos perto do fechamento, aí os funcionários começaram a preparar o ambiente para um evento que haveria no dia seguinte, foram andando pelo salão, começando a arrumar as coisas, conversando sobre onde ficaria isso, onde ficaria aquilo, e nós ali, com nossas dignas presenças sendo vetustamente ignoradas (achei lindo usar esse "vetustamente", mas acabo de descobrir que vetusto significa algo antigo, nada a ver com o que eu queria. Machado me puxaria os lóbulos. Mas vai ficar assim mesmo).

    Fico pensando no peso que os grandes jornalistas culinários sentem quando esculacham um lugar. Por sorte nossos oito leitores não serão responsáveis pela falência do Café Borgô, até porque não devem ir a Jundiaí com muita frequência. Então acho que conseguiremos dormir em paz. Vetustamente em paz.

    É isso. Em breve a gente volta a cafezar.

Endereço: R. do Retiro, 480 - Vila Virginia, Jundiaí - São Paulo
Instagram: @cafeborgo

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Cantina Masseria (Campo Grande - MS) - 22/04/2025

 

    Sempre que estamos em uma cidade, procuramos um restaurante que seja associado à Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança, que presenteia os clientes com um prato em cerâmica, mediante o pedido de um determinado prato. Em Campo Grande o Cantina Masseria é o único associado, por isso não tivemos dúvida em fazer um jantar por lá. Mas infelizmente eles estavam na transição entre o prato de 2024 e o de 2025 (em pleno abril, minha gente?), e por isso não havia o prato disponível. Mas só descobrimos isso quando já estávamos por lá, então claro que resolvemos fazer a refeição completa assim mesmo. Vai que alguma boa lembrança estava reservada, mesmo sem prato?
 
Boa lembrança pode ser, mas boa foto não, né?

Ah, essa tá melhor, saiu o bobão e dá pra ler o nome do restaurante

    Salão amplo, todo envidraçado, luminosidade agradável, boa distância entre as mesas. Temperatura perfeita. Nos sentamos em uma mesa que estava embaixo de um ar-condicionado e já estávamos prontos para nos mudar, quando o garçom nos disse que desligaria o ar, para nos poupar o trabalho de trocar de mesa. Achamos simpático. Levamos um vinho da África do Sul, que tínhamos comprado no hotel de Aquidauana, e o Cantina Masseria nos cobrou a taxa de rolha de R$30. Um preço aceitável, mas ao telefone nos disseram que era R$25. Não choramingamos esses cinco reais, mas fiz a anotação mental pra não esquecer e colocar aqui no blog, que eu sou desses.
 
Faltou citar no texto o jardim vertical ao fundo, senhor escritor

Será que essa careta é pra fazer a anotação mental?

Feliz como quem vai tomar um vinho

    Quando se vai a um lugar chamado Cantina Masseria, o que se espera é muita culinária italiana no menu. E o Masseria não decepciona nesse quesito. Começando pelas entradas, com opções de arancini, brusquetas e carpaccio. Nos principais são seis opções individuais (como a lasanha de cordeiro por R$ 73,70) e depois várias seções com pratos para dois: risotos (ao funghi por R$ 129,70), massas (espaguete carbonara por R$ 97,70), carnes (ossobuco milanês por R$ 139,90) e peixes (pintado ao urucum por R$ 142,90). É possível pedir porções individuais dos pratos para dois. Nesse caso os pratos de massa saem por 60% do valor indicado e os outros saem por 70% do valor indicado.

    Escolhemos como entrada o carpaccio (fatias de filé mignon cru, parmesão, alcaparras ao molho de maionese e mostarda, acompanhado de pão ciabatta, R$53,70 - não sei que mandinga é essa do Masseria com esses preços quebrados). Achamos que veio muito queijo por cima do carpaccio, e que as alcaparras poderiam fazer parte de um molho, e não apenas virem assim perdidas no meio do queijo. O molho de maionese e mostarda era basicamente os dois ingredientes unidos, nada de muito elaborado. A ciabatta estava boa e bem crocante. E o carpaccio estava cortado finissimamente. O limão, que veio à parte, dava uma boa levantada no prato, por conta da acidez. 

Finississississimamente

Não se abata (leia em voz alta e chore)

    "Fala pra Chris não pedir um filé mignon mal passado, por favor". Foi assim que meu irmão respondeu quando mandei mensagem no grupo da família dizendo que estávamos saindo pra jantar em Campo Grande. Tudo porque a Chris gosta muito de pedir filé mignon mal passado, e os restaurantes em geral gostam muito de errar o ponto. Então ela ficou com isso na cabeça, e não quis contrariar o cunhado: pediu como prato principal o penne com camarão (ao molho branco com camarão flambado, R$83,82 o valor individual, que corresponde a 60% do preço indicado no cardápio). Olha, teria sido melhor pedir um filé no ponto errado. Molho branco muito, muito sem graça (nível macarrão congelado da Sadia), com gosto de leite, basicamente. Camarão xoxo, gosto de água (não salgada). O que pode ser dito de bom é que o macarrão estava no ponto certo. Já em São José, meu irmão disse a ela "também, foi pedir camarão no lugar mais longe do mar". Pois é, agora é tarde pra voltar atrás.

Ufa, ao menos não é um filé no ponto errado...

    Eu não poderia deixar de homenagear minha tia Minga, e pedi a Costela Minga Desossada (assada lentamente em baixa temperatura, com cebolinha glacê, bacon caramelizado e molho demi-glace, acompanhada de nhoque dourado, R$89,90). O molho estava delicioso, com textura incrível e excelente equilíbrio entre dulçor e salgado. O nhoque sozinho era meio bobo, gosto de batata e só. A cebola parecia ser daquelas em conserva, tinha uma acidez bem típica desse tipo de preparo. Eu até gosto, mas não era o sabor esperado. Alguns pedaços de bacon estavam um pouco duros. A carne estava muito macia, derretendo mesmo, e muito saborosa, claro, com a gordura entremeada. O grande refestelo do prato era mesmo o molho, tanto que a Chris ficava molhando os camarões dela nele. Eu deixava, porque sou magnânimo - e porque experimentei o prato dela e fiquei com dó. 
 
Costela Maria Silvia Pereira (minha tia, pô)

    Petit Gateau, Crème Brûlée, Cheesecake de Frutas Vermelhas. É por aí, pelas onipresenças, que caminham as opções de sobremesa do Cantina Masseria. Nada contra, mas já cansamos de comer essas opções. Então fomos na única que era um pouco diferente, o Mil Folhas Com Dois Cremes (massa folhada com creme parisiense de baunilha e de chocolate, com avelãs torradas, R$36,90). Apresentação muito bonita. Mil folhas bem crocante, se quebrando no croc-croc. O chocolate também estava crocante. Creme de baunilha ok, mas textura um pouco pastosa. Faltou mais contraste, que vinha quando comíamos uma colherada junto com o morango. Talvez essa acidez pudesse ser incorporada de alguma forma ao mil folhas. Ou poderia ser servido com uma calda à parte que trouxesse acidez.
 
Bonito tá

    O restaurante estava bem vazio nesta noite de terça-feira, e tivemos os funcionários praticamente só para nós. O garçom principal era bem espontâneo, sem muito gesso, o que sempre agrada. Os garçons em geral mantinham boa distância da mesa, conseguindo estar presentes sem serem invasivos. Gostamos também da maneira que resolveram a situação do ar-condicionado, sem termos que nos mudar de mesa. Houve uma cobrança errada no prato da Chris, que deveria vir com 60% do valor indicado no cardápio, por ser porção individual, mas veio 70%. Mas foi corrigido rapidamente. Também houve a informação errada sobre o valor da taxa de rolha. E ao final solicitamos uma cópia da comanda com nosso consumo, pra guardar de lembrança, e ficamos vários e vários minutos esperando, até que fomos à recepção para pegar. Foram pequenas coisas que acabaram minando nossa nota final de serviço.

    Nossa ida ao Cantinha Masseria foi em busca do Prato da Boa Lembrança. Voltamos sem ele. Mas não significa que voltamos sem boas lembranças. Talvez aquela que mais vá permanecer em nossas mentes seja o molho demi-glace que acompanhava meu prato. Chris usufruiu dele quase tanto quanto eu, e ambos concordamos que foi um dos melhores molhos que já comemos em nossas visitas a restaurantes pelo Brasil afora. Mas infelizmente o restante da experiência gastronômica não acompanhou essa excelência, e definimos que não faríamos uma segunda visita ao Masseria. Não tem problema. Às vezes uma única boa lembrança pode compensar uma vida inteira de tristezas. Ou um penne completamente sem graça...

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 6 e 7
Entrada (2): 5 e 5
Prato principal(3): 4 e 8
Sobremesa(2): 5 e 5
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5 e 6,5
Voltaria?: Não e não

Serviço:

Av. Afonso Pena, 4311 - Jardim dos Estados, Campo Grande - Mato Grosso do Sul
Telefone:  (67) 3325-7722
Site: https://www.cantinamasseria.com.br/
Instagram: @cantinamasseria