quarta-feira, 28 de maio de 2025

Cantina Masseria (Campo Grande - MS) - 22/04/2025

 

    Sempre que estamos em uma cidade, procuramos um restaurante que seja associado à Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança, que presenteia os clientes com um prato em cerâmica, mediante o pedido de um determinado prato. Em Campo Grande o Cantina Masseria é o único associado, por isso não tivemos dúvida em fazer um jantar por lá. Mas infelizmente eles estavam na transição entre o prato de 2024 e o de 2025 (em pleno abril, minha gente?), e por isso não havia o prato disponível. Mas só descobrimos isso quando já estávamos por lá, então claro que resolvemos fazer a refeição completa assim mesmo. Vai que alguma boa lembrança estava reservada, mesmo sem prato?
 
Boa lembrança pode ser, mas boa foto não, né?

Ah, essa tá melhor, saiu o bobão e dá pra ler o nome do restaurante

    Salão amplo, todo envidraçado, luminosidade agradável, boa distância entre as mesas. Temperatura perfeita. Nos sentamos em uma mesa que estava embaixo de um ar-condicionado e já estávamos prontos para nos mudar, quando o garçom nos disse que desligaria o ar, para nos poupar o trabalho de trocar de mesa. Achamos simpático. Levamos um vinho da África do Sul, que tínhamos comprado no hotel de Aquidauana, e o Cantina Masseria nos cobrou a taxa de rolha de R$30. Um preço aceitável, mas ao telefone nos disseram que era R$25. Não choramingamos esses cinco reais, mas fiz a anotação mental pra não esquecer e colocar aqui no blog, que eu sou desses.
 
Faltou citar no texto o jardim vertical ao fundo, senhor escritor

Será que essa careta é pra fazer a anotação mental?

Feliz como quem vai tomar um vinho

    Quando se vai a um lugar chamado Cantina Masseria, o que se espera é muita culinária italiana no menu. E o Masseria não decepciona nesse quesito. Começando pelas entradas, com opções de arancini, brusquetas e carpaccio. Nos principais são seis opções individuais (como a lasanha de cordeiro por R$ 73,70) e depois várias seções com pratos para dois: risotos (ao funghi por R$ 129,70), massas (espaguete carbonara por R$ 97,70), carnes (ossobuco milanês por R$ 139,90) e peixes (pintado ao urucum por R$ 142,90). É possível pedir porções individuais dos pratos para dois. Nesse caso os pratos de massa saem por 60% do valor indicado e os outros saem por 70% do valor indicado.

    Escolhemos como entrada o carpaccio (fatias de filé mignon cru, parmesão, alcaparras ao molho de maionese e mostarda, acompanhado de pão ciabatta, R$53,70 - não sei que mandinga é essa do Masseria com esses preços quebrados). Achamos que veio muito queijo por cima do carpaccio, e que as alcaparras poderiam fazer parte de um molho, e não apenas virem assim perdidas no meio do queijo. O molho de maionese e mostarda era basicamente os dois ingredientes unidos, nada de muito elaborado. A ciabatta estava boa e bem crocante. E o carpaccio estava cortado finissimamente. O limão, que veio à parte, dava uma boa levantada no prato, por conta da acidez. 

Finississississimamente

Não se abata (leia em voz alta e chore)

    "Fala pra Chris não pedir um filé mignon mal passado, por favor". Foi assim que meu irmão respondeu quando mandei mensagem no grupo da família dizendo que estávamos saindo pra jantar em Campo Grande. Tudo porque a Chris gosta muito de pedir filé mignon mal passado, e os restaurantes em geral gostam muito de errar o ponto. Então ela ficou com isso na cabeça, e não quis contrariar o cunhado: pediu como prato principal o penne com camarão (ao molho branco com camarão flambado, R$83,82 o valor individual, que corresponde a 60% do preço indicado no cardápio). Olha, teria sido melhor pedir um filé no ponto errado. Molho branco muito, muito sem graça (nível macarrão congelado da Sadia), com gosto de leite, basicamente. Camarão xoxo, gosto de água (não salgada). O que pode ser dito de bom é que o macarrão estava no ponto certo. Já em São José, meu irmão disse a ela "também, foi pedir camarão no lugar mais longe do mar". Pois é, agora é tarde pra voltar atrás.

Ufa, ao menos não é um filé no ponto errado...

    Eu não poderia deixar de homenagear minha tia Minga, e pedi a Costela Minga Desossada (assada lentamente em baixa temperatura, com cebolinha glacê, bacon caramelizado e molho demi-glace, acompanhada de nhoque dourado, R$89,90). O molho estava delicioso, com textura incrível e excelente equilíbrio entre dulçor e salgado. O nhoque sozinho era meio bobo, gosto de batata e só. A cebola parecia ser daquelas em conserva, tinha uma acidez bem típica desse tipo de preparo. Eu até gosto, mas não era o sabor esperado. Alguns pedaços de bacon estavam um pouco duros. A carne estava muito macia, derretendo mesmo, e muito saborosa, claro, com a gordura entremeada. O grande refestelo do prato era mesmo o molho, tanto que a Chris ficava molhando os camarões dela nele. Eu deixava, porque sou magnânimo - e porque experimentei o prato dela e fiquei com dó. 
 
Costela Maria Silvia Pereira (minha tia, pô)

    Petit Gateau, Crème Brûlée, Cheesecake de Frutas Vermelhas. É por aí, pelas onipresenças, que caminham as opções de sobremesa do Cantina Masseria. Nada contra, mas já cansamos de comer essas opções. Então fomos na única que era um pouco diferente, o Mil Folhas Com Dois Cremes (massa folhada com creme parisiense de baunilha e de chocolate, com avelãs torradas, R$36,90). Apresentação muito bonita. Mil folhas bem crocante, se quebrando no croc-croc. O chocolate também estava crocante. Creme de baunilha ok, mas textura um pouco pastosa. Faltou mais contraste, que vinha quando comíamos uma colherada junto com o morango. Talvez essa acidez pudesse ser incorporada de alguma forma ao mil folhas. Ou poderia ser servido com uma calda à parte que trouxesse acidez.
 
Bonito tá

    O restaurante estava bem vazio nesta noite de terça-feira, e tivemos os funcionários praticamente só para nós. O garçom principal era bem espontâneo, sem muito gesso, o que sempre agrada. Os garçons em geral mantinham boa distância da mesa, conseguindo estar presentes sem serem invasivos. Gostamos também da maneira que resolveram a situação do ar-condicionado, sem termos que nos mudar de mesa. Houve uma cobrança errada no prato da Chris, que deveria vir com 60% do valor indicado no cardápio, por ser porção individual, mas veio 70%. Mas foi corrigido rapidamente. Também houve a informação errada sobre o valor da taxa de rolha. E ao final solicitamos uma cópia da comanda com nosso consumo, pra guardar de lembrança, e ficamos vários e vários minutos esperando, até que fomos à recepção para pegar. Foram pequenas coisas que acabaram minando nossa nota final de serviço.

    Nossa ida ao Cantinha Masseria foi em busca do Prato da Boa Lembrança. Voltamos sem ele. Mas não significa que voltamos sem boas lembranças. Talvez aquela que mais vá permanecer em nossas mentes seja o molho demi-glace que acompanhava meu prato. Chris usufruiu dele quase tanto quanto eu, e ambos concordamos que foi um dos melhores molhos que já comemos em nossas visitas a restaurantes pelo Brasil afora. Mas infelizmente o restante da experiência gastronômica não acompanhou essa excelência, e definimos que não faríamos uma segunda visita ao Masseria. Não tem problema. Às vezes uma única boa lembrança pode compensar uma vida inteira de tristezas. Ou um penne completamente sem graça...

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 6 e 7
Entrada (2): 5 e 5
Prato principal(3): 4 e 8
Sobremesa(2): 5 e 5
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5 e 6,5
Voltaria?: Não e não

Serviço:

Av. Afonso Pena, 4311 - Jardim dos Estados, Campo Grande - Mato Grosso do Sul
Telefone:  (67) 3325-7722
Site: https://www.cantinamasseria.com.br/
Instagram: @cantinamasseria

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Turquesa (Bonito - MS) - 18/04/2025

 


    Chovia bonito em Bonito. O que fazer quando chove em uma cidade não fornida de museus e atrações fechadas? Comer e beber, claro. Saímos do Balneário Municipal, já com os ossos molhados, e nossa ideia era fazer um almoço no Juanita, um restaurante famoso da cidade. Mas ele estava muito cheio. Então nos lembramos de um restaurante muito bonitinho pelo qual tínhamos passado na noite anterior, com mesinhas na calçada e uma decoração caprichada. Era o Turquesa, e para lá fomos, embora tenhamos tido que esperar no carro uma meia hora para a chuva diminuir. Mas tínhamos o restaurante todo só para nós!

Uma trégua da chuva bonita em Bonito

    Por dentro a decoração acompanha o charme que já havíamos percebido por fora. Estantes com livros, vasos de flores, paredes pintadas, quadros e muita, muita cor. Até o banheiro tinha quadros criativos. É como se fosse uma casa com uma decoração bem cuidadosa, mas ao mesmo tempo informal. Uma pena que, por conta da chuva, não estavam disponíveis as mesinhas na calçada. 

As índias, uma na parede, uma sentada

Dá pra ver a carinha do Zé Fê ali atrás?

A carinha da Chris dá pra ver muito bem

Será que ele seguiu os quatro passos para ser feliz?

Os quadros criativos do banheiro

    O Turquesa tem como lema, logo abaixo de seu nome, as palavras "Árabe e natural". Isso já dá uma boa dica do que podemos esperar do cardápio: pratos típicos da culinária do Oriente Médio, com muita salada e pratos frescos também como opção. Resolvemos começar nossa refeição com salgados clássicos da cozinha árabe: Chris pediu  kibe com babaganoush (R$ 9,50), eu pedi falafel com babaganoush (R$ 10,50). Os dois estavam bem crocantinhos e bonitos. A babaganoush estava boa, mas faltou um pouco mais daquele queimadinho gostoso (estamos mal-acostumados com a babaganoush de meu irmão). Eu gostei do tempero do falafel, mas Chris achou que faltou tempero no kibe. 

Kibe com babaganoush (baita nome de comida, né?)

Falafel, babaganoush e a Rê Bordosa do Angeli, um dos livros da estante

    Para os pratos principais a casa trabalha com algumas opções individuais, todas por volta de setenta reais (tem combos árabes com diversas opções, mas também lasanha de abobrinha e nhoque de batata doce, por exemplo). Claro que há também opções de pastas com pães (homus, babaganoush, coalhada seca, R$28) e de kebabs, os sanduíches árabes (por volta de R$35 cada).

    Não gostamos de comer muito no almoço quando estamos viajando, por isso resolvemos dividir um prato individual. Escolhemos o kibe assado de carne (R$ 70, kibe assado recheado com chancliche, muçarela e nozes, coberto com coalhada seca e cebola frita, acompanhado de kafta de carne, salada da alegria, maionese de abacate, farofinha crocante, chips de batata doce e torrada de pão sírio). Bastante coisa, né? Apresentação bonita e bem colorida. A saladinha estava mesmo muito alegre, com tempero suave, dava pra sentir bem todos os ingredientes frescos. Maionese com bastante sabor de abacate, parecia mesmo só abacate, poderia ter mais contraste. A farofinha estava uma delícia, muito crocante, pena que veio pouca (quem mandou pedir individual?). Pãozinho bem crocante. Kafta bem temperada, macia, tostadinha. Chips bem sequinhos. Kibe grande, bem recheado, queijo bem suave, equilibrou bem com o sabor da carne e da coalhada seca com cebola frita. Uma comida bem divertida de comer. E a porção individual foi bem satisfatória para nós dois.

Divertida e colorida

    As opções de sobremesa são mínimas. Em verdade são basicamente duas. Ficamos muito interessados em uma delas, o bolinho de arroz cuiabano da vovó servido com sorvete e sabores do cerrado. Mas o bolinho estava em falta. Então só nos restou pedir o halawi, que não é nem uma sobremesa, mas sim um doce árabe de gergelim e pistache (R$12). O que dizer? Gostosinho e talz, mas né? Um tanto doce demais (pudera, o nome do doce vem da palavra árabe halwa, que significa...doce!). Os pedacinhos de pistache agradaram. O café, que pedimos depois, ajudou a contrastar o dulçor excessivo. Mas queríamos algo mais elaborado.

Parece que encontramos o doce mais doce que o doce de batata doce

    Tivemos uma garçonete praticamente só para nós, foi atendimento VIP. Ela não parecia estar no melhor dos humores, estava um pouco seca, pra usar um termo culinário. Era até engraçada a eficiência dela em retirar nossos pratos. Me lembro do café, eu dei o último gole, estava encostando a xícara no pires e ela já veio "com licença, posso tirar?". Pode, pode, claro. Sorri, sozinho, já que Chris estava no banheiro nessa hora. Mas não dá pra reclamar do tempo de espera dos pratos, nem do serviço de maneira geral - embora tenhamos considerado uma falha do serviço a ausência do bolinho da vovó de sobremesa. Com certeza não foi culpa da vovó.

    Eu achei a experiência muito agradável. Tanto que nem era nossa ideia inicial fazer da visita ao Turquesa um futuro texto aqui no blog, mas durante a refeição decidimos que seria uma boa. Gostei muito do prato principal, e fiquei com vontade de experimentar alguns outros. Por isso concluí que faria uma nova visita. Chris, embora também tenha gostado, acha que, apesar de boa, é comida à qual já estamos acostumados, e não acha que valeria uma segunda visita. Mas ambos concordamos que foi uma ótima maneira de passar o tempo enquanto a chuva caía bonita em Bonito.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 9
Serviço(2): 7,5 e 7
Entrada (2): 5 e 6,5
Prato principal(3): 7 e 8
Sobremesa(2): 4 e 5
Custo-benefício(1): 6,5 e 7,5
Média: 6,37 e 7,20
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

R. Vinte e Nove de Maio, 976 - Rincão Bonito - Bonito - Mato Grosso do Sul
Telefone: (67) 99230-0755
Instagram: @turquesabonito

terça-feira, 20 de maio de 2025

Cafezando #8: Vício da Gula (Bonito - MS) - 18/04/2025

 


    Não podemos dizer que é uma casa lá muito católica, exortando seus clientes ao cometimento de um dos pecados capitais. Mas, convenhamos, é um pecado capital dos mais bobos. Tem uns que até vá lá, tipo ira, inveja, soberba e tal, mas gula? Diz que o pecado, pecado mesmo, é quando você come demais, ou bebe demais, de maneira intencional. Ué, mas é aí que está a graça da coisa. Se for sem querer não tem graça. Já até vejo a chegada no céu e a bronca "naquele dia você comeu três cachorros-quentes propositalmente?". "Sim, senhor, ninguém me enfiou goela abaixo, eu adoro cachorro-quente". "Pois então vós não vais entrar no paraíso". "Tá bom. Lá embaixo tem cachorro-quente?". "Sim, mesmo que fosse feito frio ele ficaria quente. O fogo, sabe?".

Prontos pro crime e pro pecado

    Como pode ser visto na foto acima, não é lá muito charmoso por fora o Vício da Gula, mas por dentro é bem bonitinho, com um jardinzinho, mesinhas no quintal, e na parte interna alguns quadros com motivos cafezísticos na parede. Começamos o vício da gula na parte de dentro, porque a mesa de fora estava ocupada. Depois que os invasores saíram, tomamos o lugar deles na mesa de fora. 

Na parte interna, Chris observa o cardápio

Na parte externa, Fê toma seu lugar dos invasores

Aí o Fê só sentou pra foto mesmo, é fake

    A Chris começou com um suco de laranja (R$12) e um Croi Peru (croissant de peito de peru, patê de ervas, rúcula e tomate seco, R$35). Croissant crocante e saboroso. Suco de laranja fez o papel de suco de laranja mesmo. Ela também pediu um café coado da casa (R$12), porque o suco a dona Chris toma num gole só, meio que pra cumprir tabela. Ela gosta mesmo é de café (mas achou o coado da casa meio sem graça). Eu pedi uma vitamina de banana, maçã e morango (R$20), que eu acho que podia ser servida mais bonitamente, mas tava boa, tinha os gostos das frutas, não tem muito mais o que exigir. Comi um toast pantaneiro (carne seca, banana caramelizada e catupiry, R$36). Era uma sexta-feira santa, e eu não deveria estar comendo carne vermelha. Mais um pecado pra lista ("O senhor comeu carne vermelha numa sexta-feira santa!" "Não comi, não comi! Tava mais pra marronzinha, eu juro, tava mais pra marronzinha!"). Blasfêmias à parte, o toast tinha uma bela combinação de sabores, e veio sem miséria nos ingredientes.

Quer ver a Chris ficar feliz? Café no seu nariz!

O Croi Peru (sem piada, sem piada) e o suco de laranja

Carne vermelha escondida embaixo das bananas! Herege!

Fê mandando ver na heresia

    Existe uma bela vitrine de doces à disposição, e o melhor jeito de escolher doces é mesmo com os olhos. Chris escolheu a torta de limão (os doces vão ficar sem o preço aqui nesse texto, por motivo de não termos anotado), uma receita clássica da casa desde 1997 (é o que tá escrito no cardápio). E é boa mesmo, além de muito bonita. Eu escolhi a baba de moça de morango (não tem preço, esqueceu?), que não se sustentou em pé fisicamente, mas se manteve altiva nos sabores equilibrados e nada enjoativos. Chris tomou um café mantiqueira feito no coador Hario V60 (um coador espiralado e com inclinação de 60 graus) e eu tomei um café do norte pioneiro feito na clever (um método de extração que mantém o café por mais tempo em contato com a água). A gente aprende essas coisas nas viagens, mas esquecemos logo depois. Tipo, daqui uns dias, se alguém me perguntar "e aí, como é o método clever de extração de café?" eu vou fazer uma indisfarçável cara de "ué". Falando nos cafés, meu norte pioneiro tava melhor que o mantiqueira da Chris. 
 
Di comê cozóio
 
A torta de limão, já parcialmente ingerida, e o garçom servindo no Hario V60

Não se sustenta, mas é altiva, a baba da moça

O garçom servindo na clever, que eu já esqueci o que era...
 
    O Vício da Gula é um jovem clássico bonitense, na ativa desde 1996, quando fornecia kit de lanche para as agências entregarem a seus clientes nos passeios. Hoje, quase trinta anos depois, a casa se diversificou, entrando no ramo de hambúrgueres, lanches, café e confeitaria. Chegamos a nos preocupar de o lugar estar fechado nesse feriadão prolongado, mas ninguém chega aos trinta anos na ativa com preguiça de trabalhar. Embora, convenhamos novamente, a preguiça, assim como a gula, também é um pecado capital dos mais bobos. "Naquele feriado de sexta-feira santa vocês preferiram dormir do que abrir o café, e deixaram a Chris e o Fê famintos!". Pensando bem, isso seria mesmo um pecado.

É isso. Em breve a gente volta a cafezar.

Endereço: R. 24 de Fevereiro, 1903 - Centro - Bonito - Mato Grosso do Sul
Instagram: @viciodagula

domingo, 18 de maio de 2025

Casa do João (Bonito - MS) - 16/04/2025

 

    Casa do João. A primeira coisa que me veio à cabeça quando estávamos indo para lá foi cantar "A Chris roubou pão na casa do João". Para minha surpresa, ela não respondeu "quem, eu?", porque não conhecia a brincadeira. Será que não rolava isso lá no Rio de Janeiro? Com delito ou não, nos dirigimos em uma noite de quarta-feira para a Casa do João, que fica no centro de Bonito, mas em uma rua perpendicular à Rua Pilad Rebuá, que é a rua do agito na cidade. Mas a Casa do João não precisa do agito da Pilad, porque dentro dela cabe praticamente uma cidade inteira: 476 lugares. Serra da Saudade (MG), o menor município do pais, tem 776 habitantes. Ok, teríamos que deixar trezentas pessoas de fora, mas boa parte da cidade caberia dentro da Casa do João. 
 
Mas afinar, robô o num robô o pão?

    Há um salão enorme, que comporta a maioria dos lugares, um pequeno balcão mais elevado, onde ficamos, além de um outro salão fechado, que estava desativado no dia de nossa visita - deve ser usado nos dias mais cheios. A decoração é diversa e bem caprichada, com lustres bonitos e alguns objetos rústicos. O teto do salão principal é sem forro, lembrando um rancho de fazenda mesmo. Houve o cuidado de preservar até um antigo poço, que foi usado até os anos 1990. Completando, o restaurante ainda abriga um pequeno museu com objetos antigos relacionados ao restaurante e à cidade e uma pequena loja de artesanato na saída. É praticamente uma atração turística à parte. Chris também ficou satisfeita com o cantinho para fumantes, sem precisar sair à rua. O lugar não estava lotado, mas tinha bastante gente, e aí entra o que, para nós, é o principal problema do ambiente: é um tanto caótico e barulhento, pela quantidade de pessoas. Mas é o estilo da casa, não tem como fugir.
 
Chris tendo um contato direto com lustres e peixes voadores

O Fê com cara de quem roubou pão

A Chris e, atrás dela, o salão, que estava desativado no dia de nossa visita
 
Dê um lugar para essa moça fumar e ela moverá o mundo

Self service de água

Um traíra na Casa do João

    O cardápio é acessado por QR Code, algo que não curtimos muito. Mas aqui dá pra entender: imagine quantos cardápios físicos eles teriam que ter em um lugar tão grande? Outro efeito colateral de um restaurante que recebe tanta gente é o cardápio com dezenas de opções, entre entradas, caldos, peixes, carnes, pratos vegetarianos, pratos kids, e com porções individuais, para dois, para três e até para cinco pessoas (caso do Arroz de Comitiva do João, que sai por R$320). É realmente muita coisa, e ficamos um bom tempo para decidir o que pedir.

    Resolvemos pedir duas entradas, e dividimos as duas. Uma delas foi o Caldinho de Boas Vindas (caldo de peixe com mandioca e coentro, R$24), servido num copinho americano (tô pensando aqui, se é de boas vindas tinha que ser de graça, né?). Sabor forte de peixe, claro, mas achei que poderia ser mais temperado. Chris gostou mais que eu. Também pedimos a Casquinha de Traíra (filé de traíra desfiada, tomate, cebola, azeite de dendê, alho, leite de coco, pimenta do reino e cebolinha , R$27,90). Nessa aconteceu o contrário, eu gostei bastante, achei saborosa e crocante, embora um pouco seca. Chris achou muito farofenta. 
 
Boas vindas. Sei...

Saborosa e crocante ou seca e farofenta?

Fê recebendo as boas vindas

    A maioria dos pratos principais da Casa do João é para dividir. São apenas seis opções entre os pratos individuais e dezesseis de pratos para compartilhar. Resolvemos tomar esse caminho. Ficamos tentados a escolher a traíra frita (R$224 na versão para duas pessoas), que é o carro chefe da casa, e a origem do restaurante. Mas não resistimos à Mojica de Jacaré (R$272 para duas pessoas), um tipo de moqueca feita com carne de jacaré, mandioca e urucum, servida com arroz, pirão e farofa de banana. 
 
    A primeira coisa a destacar é a lindeza, impressionante como o urucum deixa as coisas bonitas. O arroz tava ok, bem soltinho. O pirão estava delicioso, mas não tinha consistência de pirão, parecia mais um molho mesmo (acho que tinha creme de leite). Farofa gostosa, bem crocante (embora a Chris tenha dito "a da sua mãe fica molhadinha e crocante ao mesmo tempo"). Quanto à mojica, é preciso modular a expectativa primeiro, porque não vem aquele sabor forte de moqueca baiana, apesar de parecer com uma. Tá mais pra moqueca capixaba. Mandioca bem macia. Temperos delicados, mas presentes. A carne de jacaré estava um pouco borrachuda, foi o ponto que menos gostamos do prato (ambos já tínhamos comido jacaré antes, não era nossa primeira vez com o réptil). Misturar o caldo da mojica com a farofa foi um exercício ao qual me dediquei com deleite, mesmo depois de satisfeito. Um belo prato, não de se comer gemendo, não tem aquela intensidade, mas ainda assim um belo prato. 

Um belo prato que além de tudo é bonito e tem lindeza

Só o réptil tava meio emborrachado

    Era o nosso segundo dia em Bonito e Chris já estava apaixonada por uma frutinha local chamada jaracatiá. Então não tinha como não pedir de sobremesa o sorvete de jaracatiá com doce de leite quente, farofa de banana chips com paçoca (R$51,90). Vieram duas bolas de sorvete, e ambos ficamos com a forte impressão de que uma delas era de creme, não de jaracatiá. Faltou deixar isso claro na descrição. A junção de calor e frio é bem interessante, como em um petit gateau ou um apfelstrudel servido com sorvete. Aqui também deu certo, doce de leite bem gostoso e quentinho. Claro que isso faz com que a gente tenha que comer logo, pro sorvete não virar vitamina. 

Demoramos pra pegar o nome da fruta, sempre vinha um "jacaratiá"

    Com capacidade para servir quase dois terços da menor cidade do país ao mesmo tempo, claro que o serviço é uma parte importante da Casa do João. Por exemplo, logo na chegada uma hostess é responsável por direcionar os convivas a um local para o "assentamento". Dissemos que havia uma fumante, e que seria interessante ficar mais perto do "fumódromo". Infelizmente não foi possível, e fomos posicionados a uns 4km de distância. Mas antes mesmo de termos feito nosso primeiro pedido a mesma hostess veio até nossa mesa e disse que tinha vagado uma mesa para dois no balcão elevado, mais perto do local de abastecimento de nicotina. Fomos para lá, felizes da vida - Chris especialmente. E o serviço é todo assim, trabalhado na eficiência. Há garçons responsáveis por áreas específicas, e eles se apresentam pelo nome logo na chegada dos clientes. O nosso era o Rafael, que em dado momento deu uma sumida. Quando reapareceu, se justificou dizendo que tinha derrubado suco em si mesmo, e estava se limpando. Gostamos dessa espontaneidade, e esse foi um dos poucos momentos em que isso rolou. No mais das vezes, como dito, o serviço prima pela eficiência, sem muito salamaleque. Mas é inegável que é muito eficiente. O prato que mais demorou foi a mojica, e mesmo assim acho que não chegou a meia hora de espera.

    A Casa do João tem música ao vivo. Na noite de nossa visita era uma moça com seu violão. Repertório legal, que nós gostamos. Mas o fato de ter música ao vivo é mais um ingrediente nesse caldo meio caótico que forma o ambiente do lugar. É tudo tanto (nome de um disco da Tulipa Ruiz) que a gente fica meio zonzo. Isso não depõe contra a casa, apenas é algo que, para mim e para a Chris, joga um pouco contra quando temos que responder se voltaríamos ao lugar. E ambos concordamos que não voltaríamos. O que não nos impede de concordar que é uma experiência bonitense que qualquer pessoa que visita a cidade deveria ter. Não é sempre que se tem tudo tanto em um único lugar.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 8 e 8
Entrada (2): 6 e 6
Prato principal(3): 7 e 7,5
Sobremesa(2): 7 e 6,5
Custo-benefício(1): 5,5 e 6
Média: 6,70 e 6,95
Voltaria?: Não e não

Serviço:

R. Cel. Nelson Felício dos Santos, 664 - Centro - Bonito - Mato Grosso do Sul
Telefone: (67) 99216-0713
Instagram: @casadojoaorest

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Unüm (São José dos Campos - SP) - 19/02/2025

 

    Desde que me formei na faculdade, em 2001, voltei poucas vezes ao bairro Urbanova. Ele mudou bastante. Onde antes havia terrenos e mais terrenos, hoje há condomínios, prédios, casas e comércios diversos. Em algum lugar por ali o jogador Casemiro tem uma casa, o que contribuiu para a fama do bairro de ser um lugar de endinheirados. Longe de fazermos parte dessa classe social, eu e Chris nos aventuramos por lá, para visitar o Unüm Bistrô, que fica em uma rua relativamente tranquila, em um pequeno boulevard com mais alguns outros pontos de comércio.
 
Pela definição da foto se percebe que não são endinheirados

    O lugar é bem pequeno, fazendo jus ao título de bistrô. Existem algumas mesas do lado de fora, embaixo de uma marquise, e mais algumas do lado de dentro. É aconchegante, e  tem uma decoração simples, mas cuidadosa. As mesas tem dois lugares, demonstrando a aptidão do lugar em receber casais. As mesas encostadas na parede tem um sofázinho bem confortável.

O sofázinho confortável ficou pra Chris

A cadeira confortável ma non troppo ficou com o Fê

    Primeiro ponto positivo do serviço: menu físico. Confesso que essa moda de QR Code, sustentabilidade à parte, tem me incomodado. O cardápio físico facilita muito a visualização das opções disponíveis, e sem depender de sinal de internet. Será que é coisa de véio? 

    Entre as entradas, nada de muito inovador, existem opções de brusqueta, carpaccio e aquela que mais nos atraiu, o rolinho de Parma (rúcula, presunto parma, maçã caramelizada, parmesão, crema balsâmico e pesto de manjericão, R$ 72,90 ). A apresentação é um pouco caótica, com os rolinhos todos muito juntos, formando uma massaroca. Também achei absolutamente incompreensível a presença de palitinhos de plástico, nada condizentes com o ambiente, e ainda por cima nada práticos para "palitar" os rolinho e  levá-los à boca. Quanto ao sabor, gostamos, estavam bem delicados, especialmente considerando a força dos ingredientes. A redução de balsâmico talvez tenha dominado um pouco, sentimos falta de mais pesto. Mas havia bastante contraste na boca, o que é sempre interessante.
 
Incompreensíveis, os palitos

    O cardápio traz divisões bem claras para os principais, entre carne bovina, suína, frutos do mar, massas e opções vegetarianas. Me parece bem clara uma certa vocação italiana da cozinha, apesar da alcunha de bistrô. Os pratos são individuais, e os preços variam de R$ 72,90 (lasanha de ragu de mignon ao pomodoro) a R$ 119,90 (arroz colorido de bacalhau com posta)

    Chris escolheu duas coisas que ela ama: risoto e filé mignon. Foi de risoto de parmesão com cubos de mignon e crispy de parma (R$ 99,90). Ela deu uma primeira garfada no risoto, sem mais nada, e disse: "tá com gosto de água". Não que eu precise referendar as coisas que ela diz, mas ela me deu uma garfada, e a impressão é que o risoto não foi feito com caldo, e sim com água mesmo - e sem sal, né? Quase nada de gosto de parmesão. A garfada completa, com o presunto e o mignon, até que dava uma equilibrada nos sabores. Mas seria muito melhor, claro, se o risoto também contribuísse com alguma coisa, sem fazer a fama na aba dos outros, o folgado.
 
O escriba não citou as flores, pô

    Eu fiquei com vontade de vários pratos, mas acabei escolhendo um porquinho, o medalhão suíno com mousse de cabotiá e farofa crocante (farofa com queijo coalho, bacon e castanha de caju e molho de conhaque com laranja, R$ 86,90). Por etapas: purê bem correto, textura macia, bastante sabor da abóbora, adocicado. Farofinha deliciosa, bem crocante, com elementos salgados (queijo coalho, bacon) que contrastavam muito bem com o purê. Medalhões ligeiramente secos, mas macios, fáceis de comer, e saborosos. O molho acabou se perdendo um pouco, senti falta de mais acidez, que ele poderia trazer. Garfada completa muito saborosa e cheia de sensações.

Aqui tem fulô também, o cara nem cita, insensível

    A inclinação italiana da cozinha fica mais clara na seção de sobremesas, que já começa com diversas opções de canolis. Mas também há uma torta de maçã que se assemelha a um apfelstrudel, além do onipresente petit gateau, aqui em versão com doce de leite e coco. Como são quatro opções de canoli, e eles aparecem antes das outras sobremesas, achamos que eram uma especialidade da casa. Foi uma boa escolha. Chris optou pelo de canoli de frutas vermelhas com pistache (R$ 25,90 ). Tivemos, finalmente, a Chris fazendo aquele "hmmm, que delícia", que ainda não tinha rolado no jantar (nem quando ela olhou pra mim). Bonito, crocante, com sabores equilibrados, nada enjoativo. Eu escolhi o canoli de limão siciliano (R$ 19,90 ), e os mesmos adjetivos usados para o canoli da Chris servem também para o meu.
 
Crocante e gostoso!

Gostoso e crocante! That´s what she said...

    O restaurante é pequeno e estava vazio, de modo que tivemos a equipe de atendimento praticamente só para nós. O serviço foi bem correto, com funcionários simpáticos e bom tempo de espera entre os pratos - embora o meu principal tenha chegado um pouco antes do que o da Chris. Pela pequenez do lugar existe aquele problema de, às vezes, o garçom ficar próximo demais - pô, assim a gente nem pode falar mal da comida com liberdade. Fora isso, não temos muito do que nos queixar quanto ao serviço, embora não gostemos muito quando o garçom pergunta, após cada etapa da refeição, se estamos gostando. Mas aí pode ser chatice nossa. Diz aí, você gosta disso?

    Unüm significa "um", ou "único", em latim. E essa é a proposta do restaurante: ser um lugar único. De fato, em se tratando de São José dos Campos, um tipo de restaurante pequeno, com esse cuidado na decoração e apresentação dos pratos, não é tão comum. Os preços não são baratos, mas são condizentes com esse formato de estabelecimento - quando se coloca  "bistrô" no nome parece que é salvo conduto pra cobrar caro. Falando nisso, acho que existe alguma confusão no conceito também, colocando um nome em latim, focando mais em pratos italianos (até aí ok, combina), mas colocando um termo em francês no nome, talvez pra trazer alguma sofisticação, vai saber. Falando nos pratos, existem alguns deslizes, como palitinhos de plástico, e a indesculpável falta de sabor no risoto da Chris. Mas minha experiência, de maneira geral, foi de boa a ótima. Por isso eu voltaria ao Unüm. Já a Chris não foi feliz no prato principal, e não repetiria a visita. Então provavelmente vamos ficar só na visita unüm, não vamos pra duo, tria, quattuor, quinque e o resto dos números em latim.
 
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 8 e 7,5
Entrada (2): 8 e 7
Prato principal(3): 4 e 8
Sobremesa(2): 7 e 8
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 6,33 e 7,5
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

Avenida Ironman Victor Garrido, 651|loja 02 - Urbanova - São José dos Campos - SP
Telefone:
(12) 98849-4597
Instagram: @unumbistro